“Quando vou ofertar habitação, por exemplo, é mais cara com essa taxa de juros, uma das mais altas do mundo”, declarou Rita Serrano, presidente do banco público
A presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, afirmou que a taxa de juros da economia em 13,75% ao ano, mantida pelo Banco Central (BC), traz “dificuldade” para o crescimento da economia e penaliza a Caixa e os clientes, ao afetar “os investimentos” do banco público que são voltados “para o desenvolvimento do país”.
“Com uma taxa de juros alta, uma das mais altas do mundo, você penaliza a Caixa, que é voltada para o desenvolvimento do país, e os clientes. Quando vou ofertar habitação, por exemplo, é mais cara com essa taxa de juros. Com essa taxa de juros, perco o funding de poupança, pois deixa de ser atrativo, e começo a ter problemas para fazer esses investimentos. Entendo que, dentro do BC, a política monetária tem premissas, como gerar empregos e desenvolver o país. É importante ter um olhar para a necessidade do país de reavaliar isso. É uma discussão complexa, mas a dificuldade de crescimento vai estar colocada”, disse Rita Serrano, em entrevista ao Valor Econômico desta quarta-feira (22).
A presidente do banco público também defendeu que a Caixa deve realizar reduções nos juros, como parte de uma política de concorrência e anticíclica.
“O papel dos bancos públicos, de fato, é fundamental atuar como política anticíclica. Os bancos públicos têm essa função, de contribuir no sentido da concorrência. A Caixa concorre no mercado e quando tem uma taxa de juros mais baixa, está concorrendo. O banco fez isso no passado dentro de uma política de precificação. De lá para cá, as exigências e a fiscalização nas operações do banco são maiores, e não me parece que isso esteja colocado neste momento. O banco faz sua precificação e consegue baixar a taxa de juros até o nível que vai concorrer ou que a operação se pague. Além disso, não pode fazer. Dentro de uma política de concorrência e anticíclica, é uma possibilidade, mas precisa seguir regras de governança e precificação. Nada que dê prejuízo para o banco será feito, mas dentro de uma política de concorrência, vale a concorrência. Não é isso que os liberais pregam? O mercado?”, indagou Rita Serrano, rebatendo o questionamento sobre a Caixa ter sido usada no passado por governos petistas para forçar uma redução nos juros dos restantes dos bancos.
Ao destacar que “não existe dicotomia” entre a atuação comercial e a social por parte da Caixa, Serrano cobrou que “os bancos privados deveriam ter um compromisso com o país, investindo no desenvolvimento”. A presidente da Caixa ainda afirmou que o banco público não irá deixar de conceder crédito para grandes empresas, como ventilam algumas notícias no sentido contrário.
“A Caixa nunca abandonou e não vai abandonar o atacado, mas nossa prioridade é o microcrédito, a pequena e a média empresa, que geram empregos, mas não vamos deixar de atuar nessa área, apesar de não ser a prioridade. A grande empresa tem opção de crédito fora da Caixa, o pequeno e médio empresário já têm opção mais restrita”, lembrou Rita Serrano.
CONSIGNADO PARA O BOLSA FAMÍIAS
Sobre as novas regras do consignado para o Bolsa Família, Serrano afirmou que a Caixa “não vai aderir, e essa é uma notícia em primeira-mão. Com as novas regras, a operação não se paga. Além disso, esse produto teve um cunho eleitoral, a Caixa foi o banco que mais ofertou crédito, com R$ 7,6 bilhões. É uma excrescência. Não posso ofertar crédito em um auxílio para uma pessoa se alimentar. Na minha opinião, isso tem de ser anulado”, defendeu.
A Caixa deve tentar junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) prorrogar a devolução de R$ 20 bilhões ao Tesouro, um acordo firmado pela antiga gestão do banco com o Ministério da Economia do governo Bolsonaro e o TCU, referentes a aportes de títulos públicos (e não dinheiro em espécie), entre 2009 e 2013. Previstos para quatro anos, a presidente da Caixa informou que busca alongar a devolução em oito, pois, no contrário, haverá comprometimento na oferta de crédito do banco público.
“O banco vai diminuir a capacidade de crédito nas operações. Temos uma parcela de R$ 3 bilhões a ser paga em breve, e mesmo que pague, vamos buscar interlocutores e conversar com o TCU para alongar a pelo menos oito anos, ou prazo maior”, disse Serrano, afirmando que está dialogando com a Fazenda e o Tesouro para que eles ajudem a sensibilizar o TCU. “Quem tem que concordar é o TCU”. “Por outro lado, diminui nossa capacidade de ofertar crédito para o desenvolvimento do país. É com esses argumentos que pretendemos sensibilizar. Devo, não nego, mas vamos negociar os prazos”, afirmou.