Horas antes, na mesma região do Rio Uraricoera, outro grupo furou um bloqueio e atirou em agentes do Ibama e da Polícia Rodoviária Federal. Um garimpeiro ficou ferido e outro preso
A polícia prendeu um grupo de seis garimpeiros ilegais que atiraram contra policiais militares na região do rio Uraricoera, na Terra Yanomami, na quinta-feira (23).
A prisão aconteceu por volta das 16h40, quando os policiais foram informados de que alguns suspeitos haviam atirado contra outra equipe da PM. Eles estavam em uma canoa e tentaram fugir.
Entre os detidos estão um homem, de 50 anos, e cinco jovens, com idades entre 22 e 26 anos.
ATAQUE À BASE DO IBAMA
No mesmo dia, horas antes, garimpeiros armados atacaram uma base de fiscalização do Ibama no território e um dos garimpeiros foi baleado.
Eles furaram um bloqueio na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, e atiraram contra agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na madrugada de quinta-feira (23), para tentar fugir com minério retirado ilegalmente.
Os criminosos estavam descendo o Rio Uraricoera em sete barcos do tipo “voadeiras”, que carregavam cassiterita, minério do estanho que foi roubado do território indígena.
Eles furaram o bloqueio no rio, criado para impedir o trânsito e a fuga de garimpeiros da TI Yanomami, e atiraram contra os agentes do Ibama e da PRF que faziam a proteção.
Devido à troca de tiros, Gelso Barbosa Miranda, de 32 anos, ficou ferido e buscou atendimento no Hospital Geral de Roraima, onde foi preso.A Polícia Federal pediu o reforço na segurança da região.
O ataque foi feito próximo à aldeia Palimiú, dentro da TI Yanomami, onde o governo tem feito ações de assistência aos indígenas e de combate ao garimpo ilegal.
O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, afirmou que “foi um ataque criminoso programado. Todos aqueles que tentarem furar o bloqueio serão presos. Acabar com o garimpo ilegal é uma determinação do presidente Lula”.
A segurança desse ponto de fiscalização foi reforçada, contando, inclusive, com apoio de helicópteros por conta da ameaça de um novo ataque.
A passagem de barcos estava impedida pela presença de um cabo de aço que atravessa o rio, instalado no dia 20 de fevereiro.
ALDEIA PALIMIÚ
Em maio de 2021, a aldeia Palimiú foi duas vezes atacada por garimpeiros, que chegaram a trocar tiros por mais de cinco minutos com agentes da Polícia Federal.
Junior Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Yanomami, disse que os garimpeiros continuam atacando os indígenas com a certeza da impunidade.
“A saúde nem chegou ainda, não chegou assistência às comunidades. Estão impedidos [profissionais de saúde] de fazer missões porque tem muitos garimpeiros em muitas áreas ainda”, contou.
O governo federal acionou a Aeronáutica para controlar o espaço aéreo e está fazendo ações de combate ao garimpo. Inquéritos estão desmontando o esquema de “lavagem” do ouro para a sua venda legalizada, através de fraudes.
O Instituto Socioambiental (ISA) afirma em relatório que o problema do garimpo em terras indígenas é antigo, mas sua “escala e intensidade cresceram de maneira impressionante nos últimos cinco anos”.
Entre os motivos, a ONG aponta a “falta de transparência na cadeia produtiva do ouro e falhas regulatórias”, “fragilização das políticas ambientais e de proteção a direitos dos povos indígenas”, e a política do governo Bolsonaro de “incentivo e apoio” ao garimpo, “apesar de seu caráter ilegal”.
Na legislação atual, o ouro pode ser comercializado pelos garimpeiros mediante apresentação de uma autodeclaração sobre a origem do minério, apontando, sem a necessidade de provas, que ele foi extraído legalmente.
“O ouro produzido no garimpo ilegal pode ser facilmente “esquentado”, isto é, ter sua legalidade forjada”, afirma o ISA.