“De uma forma geral, o governo deu boas respostas aos desafios que foram postos. Estamos atentos. Se o governo enfrentar dificuldades no resultado, aí abre espaço para a emergência do golpismo”, acrescentou o ministro da Justiça ao Estadão
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou no domingo (26), em entrevista ao Estadão, que o caminho para isolar ainda mais o golpismo é o país crescer e criar empregos. “Esse ethos golpista, terrorista, do vale tudo, continua aí, num estado de latência, eu diria. Ele pode emergir de novo? Em curto prazo, não creio. Mais adiante, acho que a chave está nas nossas mãos”, disse o ministro.
Ele disse que o golpismo saiu bastante enfraquecido após a invasão das sedes dos Três Poderes. “A pergunta é: o governo Lula vai melhorar a vida do povo brasileiro? Se a resposta for sim, o golpismo tende a ser uma força declinante. Se o governo enfrentar dificuldades no resultado, aí abre espaço para a emergência do golpismo”, acrescentou Flávio Dino. Ele apontou que é na “economia, no social, na capacidade de distensionar relações, na cultura cívica”. “De uma forma geral, o governo deu boas respostas aos desafios que foram postos. Estamos atentos”, disse.
O ministro comparou os golpistas brasileiros com os lunáticos que invadiram o Capitólio nos EUA em janeiro de 2021. “Basta você olhar, por simetria, o que acontece nos Estados Unidos. É quase um efeito rebote, um eco. Essa extrema direita brasileira age quase como espelho do que se dá nos Estados Unidos. Assim como eles estão tentando retomar o espírito do Capitólio com Trump, eles vão tentar retomar o espírito de 8 de janeiro com Bolsonaro. Terão espaço social? Hoje, não têm. Mais adiante, depende do desempenho do governo”, prosseguiu.
Perguntado se somente os golpistas operadores serão presos, Dino respondeu que “não só”. “Tem algumas pessoas da cadeia de comando. O Anderson Torres (ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal) está preso. Sobre ele pesam acusações de que era um desses elos de comando”, explicou o ministro.
“A Polícia Federal fez uma petição ao Supremo Tribunal Federal (STF) que pede diligências em relação a militares. Foi ouvido um policial federal que responsabilizou militares da ativa. Estavam no Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro. A PF me consultou e disse: “E agora?” Bom, a gente não vai fingir que isso não existe. O assunto foi submetido ao relator, o ministro Alexandre de Moraes. A priori, a competência sobre militares é da Justiça Militar”, acrescentou Flávio Dino.
Ele voltou a falar da interceptação telemática que detectou preparativos para a execução de tiros no dia da posse de Lula. “Claro que hoje os cuidados são sempre maiores. Esse cidadão que está preso, da bomba do aeroporto no dia 24 de dezembro (George Washington de Oliveira Sousa), estava fazendo treino e obtendo instruções de como dar um tiro de fuzil de longa distância. Há um diálogo em que ele procura informações de qual o melhor fuzil, qual a melhor mira para tantos metros de distância”, destacou o ministro.