Conversa, ocorrida antes de sua posse no Comando do Exército, revela também que o atual comandante sabia do peso do bolsonarismo na tropa
A gravação, feita por um dos participantes, de uma conversa do general Tomás Paiva com a oficiais do Comando Militar do Sudeste no dia 18 de janeiro, três dias antes dele assumir o Comando do Exército, revela que o militar conhecia bem o peso do bolsonarismo na tropa e estava empenhado em convencer os pares da lisura do pleito presidencial.
As declarações do general, que vieram à tona agora, estavam alinhadas com o discurso legalista feito por ele alguns dias antes e que havia irritado bastante os bolsonaristas e demais golpistas. O fato dele afirmar que a vitória de Lula “era indesejada pela maioria de nós”, atesta que esta era sua avaliação sobre a correlação de forças dentro da tropa.
Mas o que chama a atenção nesta conversa com seus subordinados é que ele estava convicto de que a eleição presidencial foi limpa e legal. No diálogo, Tomás disse que era preciso aceitar o resultado das eleições porque não havia nenhum sinal de irregularidade no processo eleitoral. Ele lembrou que as Forças Armadas fiscalizaram o sistema eletrônico de votação e não encontraram falhas.
“A diferença nunca foi tão pequena, mas o cara fala assim: ‘General, teve fraude’. Nós participamos de todo o processo de fiscalização, fizemos relatório, fizemos tudo. Constatou-se fraude? Não. Eu estou falando para vocês, podem acreditar. A gente constatou fraude? Não”, afirmou o general Tomás Paiva.
“Este processo eleitoral que elegeu o atual presidente e que não elegeu o ex-presidente foi o mesmo processo eleitoral que elegeu majoritariamente um Congresso conservador. Elegeu majoritariamente governadores conservadores”, completou o militar. A conversa ocorreu logo após o então comandante do Exército, general Arruda, reunir o Alto Comando do Exército pela primeira vez após os ataques de 8 de janeiro.
Tomás, ao considerar lamentáveis e inaceitáveis os atos de 8 de janeiro, também disse que era “impossível de fazer” uma “intervenção militar com Bolsonaro presidente”, como pediam os bolsonaristas em frente aos quartéis. Segundo o comandante, os efeitos de um golpe militar seriam arrasadores.
“Imagina se a gente tivesse enveredado para uma aventura. A gente não sobreviveria como país. A moeda explodiria, a gente ia levar a um bloqueio econômico jamais visto. Aí sim iria virar um pária e o nosso povo viveria as consequências. Teria sangue na rua. Ou vocês acham que o povo ia ficar parado? Não ia acontecer, cara”, disse o general.
S.C.