Após governo do DF decidir não recorrer, sigilo de reuniões de um dos filhos do ex-presidente, Jair Renan, cai. Entenda o que pode ser revelado
Desde agosto de 2022, o sigilo relativo às reuniões de um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro passa por questionamento.
Após derrota em segunda instância, a Secretaria de Esportes e Lazer do Distrito Federal terá de revelar o conteúdo das reuniões com Jair Renan, o “04” da linhagem.
Assim, Jair Renan volta a ficar na “alça de mira” da Justiça novamente.
De acordo com os prazos legais, a Secretaria tinha até 27 de fevereiro para recorrer. Não recorrendo, o processo transitou em julgado, o que impede a possibilidade de recursos. Assim, após receber a intimação do STJ (Superior Tribunal de Justiça), a Secretaria terá 10 dias úteis para fornecer todas as informações que forem solicitadas.
Em suma, a SELDF (Secretaria de Esportes e Lazer do Distrito Federal) decretou sigilo de todos os conteúdos das reuniões realizadas entre o órgão e Jair Renan desde 2019, bem como os nomes dos participantes nessas reuniões.
A pasta incluiu também todos os registros de entrada e saída do então filho presidencial “04” no prédio.
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA E LAVAGEM DE DINHEIRO
A principal suposição é de que o sigilo ocorreu para proteger o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a empresa dele de passarem por investigação, visto que era acusado, naquela época, de tráfico de influência e lavagem de dinheiro.
Em março de 2021, a empresa de Jair Renan — a Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia —, foi alvo de investigação da PF (Polícia Federal), sob suspeita de tráfico de influência e lavagem de dinheiro.
Todavia, em razão da ausência de provas, agravada pelo sigilo, o órgão arquivou o caso.
COMUNICADO GERAL URGENTE DO BB
A Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia tem como missão organizar eventos, como feiras e congressos, assim como criar e promover conteúdo publicitário.
As suspeitas sobre o negócio surgiram a partir de acontecimentos de 2020. Em outubro daquele ano, segundo informações fornecidas pelo jornal O Globo, Jair Renan ganhou um carro elétrico de R$ 90 mil da Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, que conseguiu encontro, logo em seguida, com o ministro do Desenvolvimento Regional.
Outro fato que incentivou a abertura do processo pela PF foi a cobertura de fotos e vídeos gratuita da festa de inauguração da empresa de Jair Renan, realizada por produtora que recebeu R$ 1,4 milhão do governo.
Assim, com os conteúdos e participantes das reuniões revelados, é possível que Jair Renan Bolsonaro seja novamente alvo de investigação da Justiça.
INTERFERÊNCIA NA 1ª INVESTIGAÇÃO
A PF, em agosto de 2022, afirmou que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) interferiu no andamento de investigação envolvendo Jair Renan. De acordo com integrante do órgão, flagrado numa operação, ele foi instruído a levantar informações sobre o filho “04”, sob apuração de inquérito da PF.
De acordo com o araponga, o objetivo era prevenir “riscos à imagem” do chefe do Executivo. A operação da Abin ocorreu quatro dias após o filho de Bolsonaro e o personal trainer dele, Allan Lucena, tornarem-se alvos de investigação policial, dia 16 de março de 2021.
Os dois são suspeitos de abrir as portas do governo para empresário interessado em receber recursos públicos. Na época, Lucena acreditou que estava sendo perseguido por veículo e acionou a PM (Polícia Militar). Quando foi abordado, o suspeito se identificou como Luiz Felipe Barros Felix, agente da PF cedido para o órgão de inteligência do governo federal.
ORIGEM DA INVESTIGAÇÃO
“O objetivo era saber quem estava utilizando o veículo. O objeto de conhecimento era para saber se os informes que pudessem trazer risco à imagem ou à integridade física do presidente [da República] eram verdadeiros ou não”, disse Felix na ocasião.
Allan Lucena também foi ouvido pela PF. De acordo com o depoimento, o personal trainer afirmou ter desistido de dar prosseguimento ao boletim de ocorrência, porque teve medo de retaliações e afirmou que “se sentiu ameaçado”.
Desde então, Lucena e Jair Renan passaram a ser investigados por intermediar, com a ajuda do Palácio do Planalto, reunião entre empresário do Espírito Santo e o então ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional.
Em nota, na ocasião, a pasta informou que o encontro foi solicitado pelo gabinete do presidente da República, por meio de assessor especial de Bolsonaro, amigo de Jair Renan.
M. V.