A Indústria recuou -0,3% e a Agropecuária e os Serviços variaram +0,3% e +0,2%, respectivamente. No ano, o resultado do PIB foi de 2,9%
Sob efeito dos juros mais altos do mundo, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, ou seja, tudo o que se produziu, consumiu e se investiu no país, em valores, caiu -0,2% no 4º trimestre de 2022 na comparação com o trimestre anterior (com ajuste sazonal).
O PIB fechou 2022 com variação de apenas 2,9%, totalizando R$ 9,9 trilhões, segundo informou nesta quinta-feira (2) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nos trimestres anteriores, o PIB variou 1,3% (1º trimestre), 0,9% (2º trimestre) e 0,3% (3º trimestre).
No quarto trimestre do ano passado, a Indústria, a Agropecuária e mesmo o setor de Serviços – que vinha se destacando após a pandemia, com a volta das atividades presenciais e a demanda reprimida das famílias por serviços – registraram resultados em torno de zero. A Indústria recuou -0,3% e a Agropecuária e os Serviços variaram +0,3% e +0,2%, respectivamente.
“Quando analisamos o setor da Indústria, a única alta foi nas Indústrias Extrativas por causa da extração de petróleo. Todo o restante caiu”, disse a coordenadora da pesquisa, Rebeca Palis.
“O resultado das Indústrias Extrativas no ano foi puxado pela queda na extração de minério de ferro, relacionada ao lockdown ocorrido na China, nosso maior comprador, enquanto as Indústrias de Transformação foram impactadas negativamente devido a fatores como juros altos e custos de matéria-prima elevados”, avalia Rebeca Palis.
O resultado do arrocho monetário, com a taxa básica de juros de a 13,75% ao ano, sobre o setor produtivo e as famílias foi alertado por economistas, empresários, entre tantos setores, entidades e institutos, através de análises e pesquisas que apontavam para uma grave estagnação da economia, com queda na produção industrial, queda nas vendas do comércio varejista, recordes de inadimplência com 70 milhões de brasileiros e 6,4 milhões de empresas endividadas e sem condições de quitar as dívidas com os juros extorsivos dos bancos, no país com cerca de 40% dos trabalhadores na informalidade e com salários baixos.
“A manutenção dessas taxas de juros mais altas agrava a situação da população brasileira que já está endividada, das empresas brasileiras, que já estão muito endividadas e, quando o Banco Central pratica uma política como essa de juros elevados por muito tempo, isso pode logicamente provocar um prejuízo significativo para as empresas e para as próprias famílias”, alertou o economista Nelson Marconi, professor da FGV, ao HP.
Ele chamou a atenção para o risco de um colapso. “A continuidade dessas taxas de juros pode travar totalmente o mercado de crédito. E pode aumentar o número de endividados e o número de empresas que podem quebrar. Isso logicamente é um sinal muito ruim para a economia”, declarou Marconi
“O aumento das taxas de juros e a corrosão do poder de compra da população, devido à inflação e ao encarecimento do crédito, pesaram mais no desempenho industrial”, avaliou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), em nota, sobre a queda de -0,7% na produção industrial física em 2022.
Segundo levantamento da entidade da indústria, “o número de segmentos em crescimento no acumulado de jan-dez representou 61,3% do total em 2021, parcela que recuou para 31,2% em 2022. Em contrapartida, o peso dos segmentos em declínio saltou de 38,7% para 68,8%, respectivamente”.
Além de não reduzir os juros, o BC e os porta-vozes dos rentistas inflam uma alta da inflação de demanda, contestada por renomados economistas: “inflação não é de demanda”, para manter os juros nas alturas e por um período prolongado, de acordo com a última ata da reunião do Comitê de Política Monetária realizada este ano e 2023.
“Essa inflação de hoje foi provocada por choques negativos de oferta, essencialmente, a desorganização produtiva que ocorreu no mundo todo com a pandemia e, na saída da pandemia, com a guerra da Ucrânia, que desorganizou e teve aumento de preço de energia: derivados de petróleo, de fertilizantes, e, portanto, de alimentos. E isso, portando, um choque negativo, e isso não se resolve com contração de demanda” , afirmou o economista André Lara Resende, em recente entrevista.
Em 2022, os juros foram elevados ao mais alto patamar dos últimos 7 anos, segundo o próprio Banco Central, asfixiando as empresas e as famílias e levando a uma enxurrada de recuperações judiciais e falências na virada do ano.
Enquanto o PIB patina, o setor público transferiu para os bancos e demais rentistas cerca de R$ 600 bilhões em pagamento de juros no ano passado. São recursos transferidos da sociedade, de investimentos, da educação, saúde, segurança pública, do salário, de obras em infraestrutura, para meia dúzia de rentistas.
PIB 4ª TRIMESTRE
No quarto trimestre, em relação ao trimestre anterior, entre as atividades industriais, a Indústria de Transformação teve a queda mais intensa: -1,4%, seguida da Construção (-0,7%) e da atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,4%). Apenas as Indústrias Extrativas (2,5%) tiveram resultado positivo.
Nos Serviços, destacam-se a queda no Comércio (-0,9%) e em Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-0,5%).
Pela ótica da despesa, houve variação positiva da Despesa de Consumo das Famílias (0,3%) e da Despesa de Consumo do Governo (0,3%), ao passo que houve queda da Formação Bruta de Capital Fixo (-1,1%).
As Exportações de Bens e Serviços cresceram 3,5%, enquanto as Importações de Bens e Serviços caíram 1,9% em relação ao terceiro trimestre de 2022.
Em 2022, o resultado do PIB foi puxado pelos Serviços (4,2%), que representa cerca de 70% do indicador. A Indústria – que engloba construção e gás – variou +1,6% e a Agropecuária recuou -1,7%.
Pela ótica da demanda, o Consumo das famílias teve alta de 4,3% no ano, por conta da reabertura, após a liberação das atividades impactadas pela Covid-19.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida dos investimentos no PIB, ou bens que servem para produzir outros bens, basicamente máquinas, equipamentos e material de construção, variou apenas 0,9% em 2022. A taxa de investimento (proporção entre a FBCF e o PIB) no ano de 2022 foi de 18,8% do PIB, no ano anterior foi de 18,9%.
A taxa de poupança foi de 15,9% em 2022, ante 17,4% em 2021.