“Gostaria de pedir desculpas à presidência indiana e aos colegas dos países do Sul global pelo comportamento impróprio de várias delegações ocidentais que transformaram o trabalho na agenda do G20 em um circo, tentando transferir a responsabilidade por suas falhas na política econômica e outras, principalmente à Rússia”, afirmou nesta quinta-feira (2) o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.
Para o chefe da diplomacia russa, capitaneadas pelos Estados Unidos e pela Organização do Atlântico Norte (Otan), algumas delegações presentes em Nova Delhi se prestaram ao vexaminoso papel de provocar uma “degradação” nas relações econômicas e buscar transformá-la “em uma arma”.
Lavrov disse que considera “curioso” que os mesmos países que admitiram ter sabotado uma resolução da ONU de 2015 sobre a Ucrânia se perfilassem nesse sentido enquanto enchiam o regime ucraniano de armas para “uma guerra contra a Rússia”.
Diante da contundência das denúncias, não foi aprovada uma declaração conjunta.
Condenando a sabotagem dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, em setembro no ano passado, por mergulhadores dos EUA-Otan contra o seu país, o representante russo reiterou: “Insistimos em uma investigação justa e imediata desse ato de terrorismo com a participação da Rússia e de outras partes interessadas”. Informações do repórter investigativo norte-americano Seymour Hersh, vencedor do Prêmio Pulitzer, apontam que os gasodutos de cerca de 1.200 quilômetros de extensão tinham um papel estratégico, já que respondiam pelo abastecimento de 40% do gás europeu.
Quanto à relevância da segurança energética e da transição verde, Lavrov defendeu que o desenvolvimento de fontes renováveis precisa ser feito de forma soberana, sem qualquer imposição de “modelos caros com tecnologias caras”, que impedem o avanço econômico nacional nos países mais pobres.
Ao mesmo tempo, o representante de Moscou propôs a criação de “uma barreira” contra “sanções ilegítimas”, assim como o impedimento a qualquer tentativa de violação do livre comércio internacional e a imposição “arbitrária” de preços máximos, como feito recentemente com o petróleo bruto da Rússia e produtos derivados.
Objetivamente, esclareceu Lavrov, “as causas da crise estão nas ações do Ocidente, que quando a pandemia de Covid começou imprimiu trilhões de dólares e euros, comprando febrilmente as reservas de alimentos de todo o mundo”. Exemplo disso, apontou, é que hoje a maior parte dos grãos ucranianos – cumprindo acordos assinados no verão passado na Turquia – vai para a União Europeia a “preços de dumping” e não para os Estados mais necessitados. Da mesma forma, citou, são impostos obstáculos às exportações da produção agrícola russa. “Muitas doações russas de fertilizantes, em particular para a África, ainda estão bloqueadas nos portos da Europa. O Ocidente enterra a iniciativa humanitária do inescrupuloso secretário-geral da ONU”, sintetizou.
Diante de tais práticas por parte do Ocidente, Moscou tem intensificado e diversificado os laços com os países do BRICS (que inclui além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul), a Organização de Cooperação de Xangai (SCO), a União Económica da Eurásia (EAEU), países africanos, entre outros. Para a consolidação destas relações, Moscou tem buscado a formação de sistemas de pagamento independentes da banca internacional, bem como o aumento da taxa de câmbio das moedas nacionais.