“Influenciado por política monetária contracionista, setor sofreu variação negativa de 0,3% em 2022”, aponta a entidade em nota. Economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, alerta sobre a necessidade urgente da “diminuição do custo do crédito a partir da redução da taxa básica de juros e adoção de políticas voltadas à redução do endividamento das empresas e famílias brasileiras”
Ao analisar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado na quinta-feira (2/3) pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), a Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou que a queda de 0,3% da indústria de transformação em 2022 foi “em consequência, sobretudo, dos efeitos causados pela política monetária contracionista”.
“Diante da expectativa de um período mais longo de juros elevados, com desaceleração da economia brasileira, especialmente no 1º semestre de 2023”, a entidade projeta uma queda de 0,4% do PIB da Indústria em 2023. No ano passado, o PIB da indústria de transformação caiu 0,3%.
Se confirmada a projeção da entidade, será a sétima queda que o setor irá amargar em 10 anos. O economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, alerta sobre a necessidade urgente da “diminuição do custo do crédito a partir da redução da taxa básica de juros e adoção de políticas voltadas à redução do endividamento das empresas e famílias brasileiras”. Ele também citou a reforma tributária e a definição de novo arcabouço fiscal como ações prioritárias.
Os brasileiros são os maiores pagadores de juros reais do mundo, o que inibe o consumo e os investimentos no país. A economia brasileira caiu -0,2% no 4º trimestre de 2022 na comparação com o trimestre anterior (com ajuste sazonal).
O Índice de Condições Financeiras (ICF-FIESP) apontou que essa desaceleração da atividade econômica deve continuar nos primeiros meses de 2023. “As condições financeiras da economia brasileira se encontram em terreno restritivo, sobretudo devido à elevação dos juros internacionais e doméstico, o que impacta negativamente as condições de crédito. Este alto patamar das taxas de juros nas economias desenvolvidas, somado à desaceleração da atividade global, tendem a atuar como freios para a atividade em 2023”, avaliou a Fiesp.
No quarto trimestre de 2022, enquanto a indústria extrativa mineral cresceu 2,5% contra o trimestre imediatamente anterior, os segmentos de construção civil e eletricidade e gás, água e esgoto caíram 0,7% e 0,4%, respectivamente. Já a indústria de transformação recuou 1,4% no período em que o consumo das famílias e o consumo do governo obtiveram um crescimento muito baixo (0,3%) na passagem trimestral.
Já a Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o que investe o país em bens de capital, máquinas, equipamentos e material de construção e outros, recuou 1,1% no último trimestre de 2022.
No acumulado de 2022, a economia cresceu 2,9%, após avançar 5,0% em 2021. Com o esgotamento dos efeitos positivos na economia do fim das medidas de restrição de mobilidade criadas para combater a pandemia de Covid-19, os efeitos dos juros altos desencadearam a desaceleração da atividade econômica na segunda metade do ano.
“O resultado do PIB em 2022 refletiu, sobretudo, o bom desempenho do setor de serviços, o qual foi beneficiado pelo processo de reabertura econômica após o fim das restrições sanitárias e pelas ações de estímulo à demanda adotadas pelo governo federal, como a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas, o saque antecipado do FGTS, a majoração do valor do Auxílio Brasil e as medidas de desoneração”, avaliou a Fiesp.
“Contudo, conforme o crescimento mais lento da atividade no 3º trimestre já havia sinalizado, o 2º semestre de 2022 não apresentou o mesmo dinamismo da primeira metade do ano. O esgotamento dos efeitos da reabertura econômica, a perda de fôlego dos estímulos à demanda e a incerteza econômica elevada, somados aos efeitos contracionistas do aumento da taxa de juros, contribuíram para este quadro”, concluiu a entidade.