
Desmentindo Biden, Zelensky e seguidores, o economista norte-americano, Jeffrey Sachs, destacou que “não estamos no primeiro aniversário da guerra. Este é o 9º ano do conflito. E isto faz uma grande diferença”
“A guerra – afirmou o acadêmico norte-americano Jeffrey Sachs – “começou em fevereiro de 2014” com a violenta derrubada do presidente ucraniano Viktor Yanukovych, “um golpe que foi apoiado abertamente e clandestinamente pelo governo dos EUA”. Sachs fez essas considerações em matéria publicada no dia 28 último no seu site www.jeffsachs.org.
Desmentindo Joe Biden, Volodymyr Zelensky e a mídia pró-Otan, Jeffrey Sachs afirmou que “não estamos no primeiro aniversário da guerra. Este é o 9º aniversário da guerra. E isto faz uma grande diferença”.
Professor da Columbia University (NYC) e Diretor do Centro para o Desenvolvimento Sustentável e Presidente da Rede de Soluções Sustentáveis da ONU, Sachs atualmente serve como Defensor da iniciativa para Metas de Desenvolvimento Sustentável sob o Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, depois de ter sido conselheiro de três Secretários-Gerais da ONU.
Sachs sublinha que “desde 2008, os EUA empurraram a expansão da OTAN para a Ucrânia e a Georgia”. O golpe de 2014 contra Yanukovych foi “realizado a serviço da expansão da OTAN”.
Assim, na raiz do conflito, para Sachs – e muitas outras pessoas de bem, no mundo inteiro – está esse “implacável ímpeto pela expansão da OTAN”.
É Sachs que rememora que Washington e Berlim prometeram “explicitamente e repetidamente” ao então presidente soviético Gorbachev que “a OTAN não se expandiria ‘uma polegada para o leste’ depois que este dissolveu o Pacto de Varsóvia”.
“EXPANSÃO DA OTAN VIOLA ACORDOS”
Portanto, a expansão da OTAN “foi uma violação dos acordos firmados com a União Soviética e, portanto, com sua sucessora, o estado da Rússia”. Os neocons – ele acrescenta – empurraram a expansão da OTAN porque eles buscam cercar a Rússia na região do Mar Negro, assemelhando-se às metas da Grã-Bretanha e da França na Guerra da Crimeia (1853-56).
O acadêmico também faz referências às elocubrações geopolíticas de Zbigniew Brzezinski, segundo qual o Ucrânia seria o “pivô geográfico” da Eurásia.
Segundo tal crendice, se os EUA pudessem cercar a Rússia na região do Mar Negro e incorporar a Ucrânia à aliança militar dos EUA, “a capacidade da Rússia de projetar poder no Mediterrâneo Oriental, no Oriente Médio e globalmente desapareceria”. “Ou é assim que diz a teoria”, observa Sachs.
“Obviamente, a Rússia viu isto não só como uma ameaça geral, mas como uma ameaça específica de alocar armamentos avançados até a fronteira da Rússia. Isto ficou especialmente ameaçador depois que os EUA abandonaram unilateralmente o Tratado de Mísseis Antibalísticos de 2002, o que, segundo a Rússia, constituía uma ameaça direta à segurança nacional da Rússia”.
O acadêmico norte-americano registra que Yanukovych durante sua presidência (2010-2014) “buscou a neutralidade militar, precisamente para evitar uma guerra civil ou uma guerra por procuração na Ucrânia”.
Segundo Sachs, quando se iniciaram os protestos contra Yanukovych no final de 2013, quando do atraso na assinatura do percurso de adesão à União Europeia, “os EUA aproveitaram a oportunidade para escalar os protestos em um golpe, o qual culminou com a derrubada de Yanukovych em fevereiro de 2014”.
Washington insuflou “implacavelmente e clandestinamente os protestos” e os “paramilitares nacionalistas ucranianos de direita” – discreta forma de se referir a neonazistas – “entraram na cena”. “ONGs estadunidenses gastaram vastas somas para financiar os protestos e a derrubada final”.
Sachs enumera “três pessoas intimamente envolvidas nos esforços dos EUA para derrubar Yanukovych”: “Victoria Nuland”, então secretária-assistente de estado e agora subsecretária de estado dos EUA; “Jake Sullivan”, na época conselheiro de segurança do então vice-presidente Joe Biden e agora conselheiro de segurança nacional dos EUA para o presidente Biden.
Dessa interferência no golpe, Sachs reproduz a famosa indicação de Nuland, pelo telefone, ao embaixador do EUA na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, sobre quem Washington queria encabeçando o governo imposto pelo golpe, coroada pela imprecação “F***-se a União Europeia”, que veio a público.
Para Sachs, essa conversação interceptada “revela a profundidade do planejamento de Biden-Nuland-Sullivan”, com a então subsecretária de Estado confirmando de viva voz o golpismo de Sullivan e Biden.
Sobre o envolvimento do governo dos EUA no golpe, Sachs recomenda a seus leitores o documentário de 2016 ‘Ukraine on Fire’ [Ucrânia em Chamas], do diretor de cinema norte-americano Oliver Stone. “Eu insto todas as pessoas a assisti-lo para ver o que é uma operação de mudança de regime dos EUA”.
Sachs também convoca todas as pessoas a lerem os estudos acadêmicos do Prof. Ivan Katchanovski, da Universidade de Ottawa, “que revisou laboriosamente todas as evidências dos eventos da praça Maidan e descobriu que a maior parte da violência e matança não se originou das forças de segurança de Yanukovych, como foi alegado, mas sim dos próprios líderes do golpe, que dispararam sobre as multidões, matando tanto os policiais quanto os manifestantes”.
“GOLPE NO CORAÇÃO DA EUROPA”
“Estas verdades permanecem obscurecidas pelo segredo dos EUA e a subserviência europeia ao poder dos EUA. Um golpe orquestrado pelos EUA ocorreu no coração da Europa e nenhum líder europeu ousou falar a verdade. As consequências brutais se seguiram, mas, mesmo assim, nenhum líder europeu fala honestamente sobre os fatos”.
“O golpe foi o início da guerra há nove anos. Um governo extraconstitucional, direitista, antirusso e ultranacionalista chegou ao poder em Kiev. Após o golpe, a Rússia rapidamente retomou a Crimeia após um rápido referendo e a guerra explodiu no Donbass, quando os russos no exército ucraniano mudaram de lado e se opuseram ao governo pós-golpe em Kiev”.
A OTAN – enfatiza Sachs – começou imediatamente “a despejar bilhões de dólares em armamentos para a Ucrânia. E a guerra se escalou”.
“Os acordos Minsk-1 e Minsk-2, nos quais a França e a Alemanha deveriam ser cofiadores, não funcionaram; primeiro, porque o governo nacionalista ucraniano em Kiev se recusou a implementá-los e, em segundo lugar, porque a Alemanha e a França não pressionaram pela sua implementação – como foi recentemente admitido pela ex-Chanceler alemã Angela Merkel”.
No final de 2021, o presidente Putin deixou muito claro que as três linhas vermelhas russas eram: (1) a extensão da OTAN à Ucrânia é inaceitável; (2) a Rússia manteria o controle da Crimeia; e (3) a guerra no Donbass precisaria ser resolvida através da implementação do acordo MinsK-2. “A Casa Branca de Biden se recusou a negociar sobre a questão da expansão da OTAN”.
“A invasão russa ocorreu, tragicamente e erroneamente, em fevereiro de 2022 – oito anos após o golpe contra Yanukovych”, conclui Sachs, sem elaborar como seria possível outra medida, face ao iminente desencadeamento, pelo regime de Kiev, de uma operação de limpeza étnica contra os falantes de russo, e diante da recusa de Washington, Bruxelas e Kiev em negociar.
Desde então, os EUA “despejaram dezenas de bilhões de dólares em armamentos e apoios orçamentários”. As mortes e a destruição neste campo de batalha em escalada são horrendas.
Para Sachs, foram os EUA que bloquearam as negociações “com base na neutralidade” da Ucrânia em março de 2022, momento em que a guerra “parecia estar próxima do seu final”, com declarações positivas de autoridades ucranianas e russas, bem como dos mediadores turcos. Como é sabido através do ex-primeiro-ministro israelense Naftali Bennett, “os EUA bloquearam estas negociações; ao invés disso, eles favoreceram uma escalada da guerra para ‘enfraquecer a Rússia’”.
Sachs também destaca que em setembro de 2022 os gasodutos Nord Stream foram explodidos e que há “evidências irrefutáveis” da responsabilidade dos EUA na destruição. O relato de Seymour Hersh “não foi refutado sequer em um único ponto importante (apesar de ter sido fervorosamente negado pelo governo estadunidense)”. O que aponta para “Biden-Sullivan-Nuland”.
Advertindo contra uma “escalada terrível” e deplorando o silenciamento pelas mídias norte-americanas e europeias, Sachs reitera que “toda a narrativa de que este é o primeiro aniversário da guerra é uma falsidade que esconde as razões para esta guerra e a maneira de terminá-la”.
“Esta é uma guerra que começou devido ao empurrão irresponsável dos neoconservadores estadunidenses pela expansão da OTAN, seguido pela participação dos neoconservadores dos EUA na operação de mudança de regime de 2014. Desde então, houve uma escalada massiva dos armamentos, das mortes e da destruição”.
“Esta é uma guerra que precisa terminar, antes que ela engula a todos nós no Armageddon nuclear”, insiste o acadêmico.
“Eu louvo o movimento pela paz pelos seus valentes esforços, principalmente em face das descaradas mentiras e da propaganda do governo dos EUA e do covarde silêncio dos governos europeus – que agem como totalmente subservientes aos neoconservadores estadunidenses. Devemos atentar às linhas vermelhas de ambos os lados, de modo que o mundo sobreviva”.