“Endividamento alto e a escalada de juros têm efeitos adversos que se reforçam e acabam se expressando em aumento da inadimplência”, aponta Iedi
“Os níveis recordes de endividamento das famílias, junto com o aumento de juros, são obstáculos à continuada expansão do crédito, especialmente em um contexto de baixo dinamismo econômico”, afirma o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Segundo o Instituto, com base em dados de novembro de 2022, último dado disponível, as dívidas representavam 31,4% da renda das pessoas físicas, exceto o financiamento imobiliário. Isso significa que é 1/3 maior do que o valor de agosto de 2020, quando teve início uma rápida e persistente trajetória de elevação.
“Endividamento alto e a escalada de juros têm efeitos adversos que se reforçam e acabam se expressando em aumento da inadimplência”, alerta o Iedi
“As taxas médias dos juros reais praticados nas concessões às famílias avançaram de +26,0% em dez/21 para +33,7% em dez/22. Se excluirmos algumas operações que amortecem e puxam a média para baixo, como o financiamento imobiliário, e mantivermos apenas os juros que são livremente pactuados entre as partes, a alta foi de 40,9% a.a. para 52,7% a.a., respectivamente. A inadimplência desta carteira atingiu 5,9% ao final de 2022”, aponta o instituto.
Se o quadro é preocupante para as família brasileiras “porque indivíduos de menor renda tendem a ser os mais endividados”, segundo a Serasa Experian, cerca de 70 milhões de brasileiros iniciaram o ano de 2023 inadimplentes e, para as empresas, a situação também é grave.
Com os juros nas alturas, a concessão de crédito perde força e, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, diivulgada em dezembro do ano passado, com os juros elevados tirando o sono dos empresários, a busca pelo crédito também caiu.
O Iedi assinala “a perda de força na concessão de crédito” às empresas. “A alta de +21,1% no 3º trim/22 refluiu para +9,3% no 4º trim/22, frente a iguais períodos do ano anterior e corrigida a inflação. A maior responsável por isso foi a parcela das concessões com condições livremente pactuadas entre as partes, que retrocedeu de +23% para +6,4% no período”.
“Cabe lembrar que é esta parcela do crédito bancário, o chamado “crédito livre”, que reage mais intensamente à elevação dos juros. Para as empresas os juros médios passaram de 17,9% a.a. em dez/21 para 21,8% a.a. em dez/22, descontada a inflação. Esta alta foi mais intensa do que a das taxas de juros das concessões do crédito direcionado pelos circuitos oficiais de financiamento, cujos juros médios passaram de 9,8% a.a. para 11,2% a.a. em igual período”.
BNDES
“A perda de fôlego do segmento livre do crédito corporativo foi, em parte, atenuada pelo dinamismo do crédito oficial onde os juros praticados são menores. As concessões reais às empresas deste último segmento avançaram +66,5% no 4º trim/22, sob influência das operações concedidas pelo BNDES (+176%) e do financiamento imobiliário (+36,1%)”.
“Embora a evolução das operações contratadas por empresas industriais tenha ficado em linha com a dos demais setores, no ano como um todo foi a que menos cresceu: +17,1% para a agropecuária, +13,7% para os serviços e +12,3% para a indústria. A queda do financiamento à indústria automobilística (-13,9%) foi um freio importante”, assinala o Iedi.