Para a vice-procuradora, atacar ministros do STF e acusá-los de trapaceiros, como fez Bolsonaro no encontro com embaixadores em Brasília, não tem nada demais. Ela disse também que ele não incitou os terroristas do 8 de janeiro
A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, seguiu seu padrão e respondeu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não cometeu crimes ou ato de improbidade na apresentação com ameaças golpistas a embaixadores estrangeiros em julho do ano passado, na qual ele falou que se preparava uma fraude nas urnas eletrônicas e atacou os ministros.
O presidente da República usa as instalações da Presidência para reunir embaixadores de diversos países e acusar, sem nenhuma prova ou fato suspeito, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de estar preparando uma fraude nas eleições presidenciais do país e a vice-procuradora não viu nada de anormal nisso. Ela solicitou o arquivamento de um pedido de investigação do ex-presidente apresentado por deputados do PT, PSOL, PV, PSB e PDT.
Os parlamentares pediam apurações sobre as óbvias suspeitas de crime contra o Estado democrático de Direito, delito eleitoral, crime de responsabilidade e de atos de improbidade administrativa. Aliás, as suspeitas depois se confirmaram com a minuta do golpe achada na casa do ex-ministro da Justiça e que previa a decretação do Estado de Defesa no TSE, com a prisão dos ministros e a mudança do resultado da eleição.
Bolsonaro já é investigado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por causa da reunião com embaixadores. O pedido enviado ao Supremo estava sob responsabilidade da ministra Rosa Weber, que já havia negado outra manifestação de Lindôra contra o andamento da ação. Rosa Weber assumiu a presidência do STF em setembro do ano passado, e a relatoria do caso passou a ser do ministro Luiz Fux.
Segundo Lindôra, “o discurso proselitista do representado [Bolsonaro] não tem o condão de incitar, direta ou indiretamente, a participação de seus apoiadores em atos criminosos ou de agressão à democracia ou mesmo a animosidade entre as Forças Armadas e os Poderes constituídos”. A vice-PGR disse que a manifestação era “mera impressão sem a aptidão para abolir o Estado democrático de Direito ou fomentar o acirramento de ânimos na caserna contra o Tribunal Superior”.
Ela teve a coragem de dizer que Bolsonaro “não teve o condão de incitar” a participação de seus apoiadores em atos criminosos, mesmo depois de tudo o que ocorreu em Brasília no dia 8 de janeiro.
Os crimes cometidos naquele fatídico 8 de janeiro pelos apoiadores de Bolsonaro, incitados por ele depois de não ter reconhecido o resultado das eleitoral, insinuando que teria havido fraude, mostraram claramente que estava tudo esquematizado para o golpe. Ele só não se consumou pela ação firme do novo governo.