“Grandes potências estão lá emaranhadas”, acrescentou o papa
A Rússia não é o único “império” cujos interesses estão impulsionando o conflito na Ucrânia, disse o Papa Francisco em entrevista à televisão suíça RS , que será publicada no domingo. Trechos da entrevista foram publicados por vários canais italianos na sexta-feira, registrou a RT.
Questionado sobre o conflito em curso entre Moscou e Kiev, o papa afirmou que se transformou em uma “guerra mundial” na qual “as grandes potências estão todas emaranhadas”.
“O campo de batalha é a Ucrânia. Todo mundo está lutando lá. Isso faz com que a indústria pense em armas”, comentou o Papa. Ele também declarou sua disposição de se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin, para negociações.
O pontífice afirmou que Putin sabe que a opção de negociar a paz está sempre disponível. No entanto, ele reconheceu que “interesses imperiais” estão em jogo no conflito na Ucrânia, “não apenas do império russo, mas também de outros impérios”.
“É função do Império colocar as nações em segundo lugar”, disse o papa. Ele pediu repetidamente um fim pacífico para as hostilidades que abalaram a Ucrânia no ano passado.
No entanto, após insinuar que o conflito “talvez de alguma forma tenha sido provocado ou não evitado” e que há um “interesse em testar e vender armas” em jogo, o papa indicou não ser um apoiador de Putin.
“Seria simplista e errado dizer algo assim”, apontou o Papa em uma entrevista em junho, acrescentando: “Sou apenas contra transformar uma situação complexa em uma distinção entre bom e mau, sem levar em conta raízes que são muito complexas.”
O papa fez comentários semelhantes em entrevista ao jornal espanhol ABC em dezembro, na qual também sugeriu que “a guerra é travada quando um império começa a enfraquecer. E quando há armas que precisam ser usadas, testadas e vendidas. muito em jogo.”
Moscou, por sua vez, descreveu repetidamente o conflito na Ucrânia como uma “guerra por procuração” travada contra o país pelos EUA e seus aliados. O presidente russo Putin indicou que o Ocidente está agora buscando um conflito global, com alguns oficiais da OTAN pedindo abertamente a “derrota estratégica da Rússia”. Ele tem se destacado na defesa de um mundo multipolar, ao invés da atual ordem unipolar sob as regras de Washington.
Putin também culpou Kiev e seus apoiadores ocidentais pelo conflito na Ucrânia, que deram início em 2014 à guerra contra o povo de Donbass, por se opor ao golpe de Estado. Ele observou que, embora a Rússia “não tenha iniciado as atividades militares”, agora está tentando encerrá-las.