Ela deu “ônibus e refeições de graça”, diz. Outros dois ex-candidatos bolsonaristas no Estado também foram citados. Pessoas foram arregimentadas para tentar destruir a democracia brasileira e derrubar Lula
Investigações da PF (Polícia Federal) relativas aos atos golpistas de 8 de janeiro avançam. Uma das pessoas detidas pela PF por participação nos atos de terror, vandalismo e roubo nas sedes dos Poderes em Brasília afirmou, em depoimento, que uma deputada federal bolsonarista e dois candidatos a deputado estadual foram os responsáveis pela organização de ônibus que saiu de Mato Grosso com destino a Brasília às vésperas do evento golpista.
Procurados, os três citados negaram participação no fretamento de caravanas para o 8 de janeiro, dia que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram, depredaram e furtaram nas sedes dos Três Poderes, em Brasília.
Detida em janeiro, Gizela Cristina Bohrer, 60 anos, é aposentada e reside em Barra do Garças (MT). Ela relatou à PF ter chegado a Brasília no sábado (7 de janeiro), véspera do ato que resultou na destruição das sedes dos Três Poderes.
No depoimento, disse ter embarcado em ônibus gratuito e que a caravana foi organizada pela deputada federal Coronel Fernanda (PL-MT), policial militar eleita para o primeiro mandato dela na Câmara dos Deputados.
E, ainda, pela candidata a deputada federal Analady Carneiro da Silva (PTB-MT), que não se elegeu, e pelo candidato a deputado estadual Rafael Yonekubo (PTB-MT), que ficou como suplente.
Segundo o portal UOL, que obteve e analisou, durante a última semana, cerca de 1.000 depoimentos sigilosos prestados à PF por extremistas bolsonaristas de direita presos no acampamento antidemocrático no QG (Quartel-General) do Exército, logo após o 8 de janeiro.
ÔNIBUS ORGANIZADOS POR IGREJAS
Reportagem publicada, quarta-feira (15), sobre o tema mostrou que evangélicos presos após os atos antidemocráticos relataram à PF terem viajado em ônibus organizados pelas igrejas. A documentação inédita está sob análise da PF para o aprofundamento das investigações sobre os financiadores e organizadores dos atos antidemocráticos
“Os três coordenam grupos de WhatsApp e organizam caravanas a Brasília já há dois anos; que tais caravanas tinham por objetivo o apoio ao então presidente Bolsonaro, tais como fizeram por ocasião dos desfiles de 7 de setembro e 15 de novembro de 2021 e 2022”, contou à PF a bolsonarista.
“Todo mundo que vem nesses ônibus vem de graça e recebe todas as refeições de graça”, afirmou.
APROFUNDAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES
Além de citar os nomes deles, Gizela apresentou no depoimento dela os números de telefones dos três, que ainda são usados por eles. Ao ser detida, a depoente teve o celular apreendido e forneceu a senha aos investigadores, para permitir o aprofundamento das investigações.
Procurada, a deputada Coronel Fernanda negou ter organizado ônibus para o ato do 8 de janeiro e disse que estava em Mato Grosso nessa data (isso não a isenta, pelo contrário). “Em anos anteriores, quando tivemos aqueles primeiros movimentos, como do 7 de setembro, todos nós ajudamos, mas em 2023, não. Não tenho participação e nem sei quem é essa pessoa que está falando”, afirmou.
Interessante, por que Gizela Cristina Bohrer mentiria sobre isso? Por que ela tinha na agenda do celular o número do celular da deputada? Estas e outras perguntas relativas à tentativa de golpear a democracia precisam ser respondidas.
‘CLIENTES’ ANTIGOS DA PF
A PF já havia realizado busca e apreensão contra Analady Carneiro e Rafael Yonekubo em dezembro do ano passado, sob suspeita de que eles estavam incentivando a realização de atos antidemocráticos pelo País.
Questionados, Analady e Yonekubo negaram a organização de transporte para o dia 8. “Não fui nem organizei nada. Era meu casamento no dia 7 (de janeiro) e como eu já era alvo do ministro Alexandre de Moraes, eu não mexi com mais nada”, afirmou Yonekubo.
Analady disse que havia viajado para Brasília em dezembro, mas que não participou das organizações para o 8 de janeiro. “Ela se confundiu”, disse.
É a primeira vez na investigação dos atos antidemocráticos que parlamentares foram citados como possíveis organizadores das caravanas do 8 de janeiro.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) havia solicitado ao STF (Supremo Tribunal Federal) inquéritos contra André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Silvia Waiãpi (PL-AP), por incitação dos atos golpistas de violência, vandalismo e terror registrados em Brasília, no último dia 8 de janeiro.
Na ocasião, os três negaram participação da tentativa de golpe de Estado do dia 8 de janeiro, mas cada um afirmou que “não aprova invasões”.
VISITAS E ACOMPANHAMENTO DE SOLTURAS
A deputada bolsonarista Coronel Fernanda tem feito visitas às presas em Brasília e também tem acompanhado a soltura de algumas golpistas.
Ela esteve na porta do Cime (Centro Integrado de Monitoração Eletrônica) para recepcionar a liberação de algumas dessas que participaram da tentativa de golpe de Estado.
O STF investiga quem bancou financeiramente as caravanas a Brasília e também outros apoiadores que incentivaram a tentativa de golpe de derrubar o presidente eleito em outubro.
M. V.
Todos os citados devem serem investigados e se culpados punidos com todo rigor da lei, para golpistas fascistas só há um caminho cadeia.