Com juros altos e endividamento elevado reduzindo vendas e produção, a atividade industrial segue patinando. Segundo a Sondagem Industrial da entidade, o emprego também recuou em relação a janeiro
A atividade industrial brasileira segue desaquecida neste início de 2023, informou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), nesta quarta-feira (16). Com os juros nas alturas restringindo o crédito e elevando o endividamento e a inadimplência da população, a indústria não está conseguindo escoar o que produz ao varejo. De acordo com a CNI, o nível dos estoques segue acima do planejado pelos empresários, o que dificulta o aumento das atividades das indústrias.
De acordo com a pesquisa “Sondagem Industrial” da CNI, a produção e o emprego no setor caíram, respectivamente, de 47,9 pontos para 45,2 pontos e de 49,2 pontos para 48,5 pontos, de janeiro para fevereiro. Quando se supera os 50 pontos, indica-se crescimento da produção. O índice varia de 0 a 100, quanto mais distante da linha de corte, em direção ao zero, maior e mais disseminado é o recuo.
“A produção costuma recuar mesmo na passagem de janeiro para fevereiro, porém, de 2017 para cá, este foi o menor índice. Além disso, o número também é menor que a média histórica para o mês, de 46,5 pontos”, declarou o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
Os juros altos estão afetando a indústria e o varejo ao encarecer o financiamento. Isto fica nítido aos olhos, quando se olha os números do varejo ampliado, por exemplo, onde é mais intensa a necessidade por empréstimos. Em dezembro de 2022, o segmento do varejo que promove as vendas de veículos, motos, partes, peças e materiais de construção, apresentou apenas um crescimento no volume de suas vendas de 0,4% (após queda de 0,5% em novembro) e quedas de 0,6% no acumulado do ano de 2022 e frente ao ano de 2021. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio, apurada pelo IBGE.
Por setores, os resultados são os seguintes: Material de construção apresentou queda de 7,1% nas vendas frente a dezembro de 2021 e fechou o ano de 2022 com perda acumulada de 8,7%, sendo o primeiro ano a fechar negativo desde 2016 (-10,7%); Veículos e motos, partes e peças a queda foi de 1,8% nas vendas frente a dezembro de 2021, a sétima consecutiva e a oitava em nove meses, fazendo com que o ano de 2022 fechasse com perdas acumuladas de 1,7%, no volume, em relação ao ano de 2021.
Na passagem de novembro para dezembro de 2022, a produção industrial nacional mostrou variação nula (0,0%). E assim, fechou o ano com queda de 0,7%, com quedas em todos os segmentos das categorias econômicas: Bens de Capital (-0,3), Bens Intermediários (-0,7), Bens de Consumo (-0,8) – Bens de Consumo Duráveis (-3,3%), Bens de Consumo Semiduráveis e não Duráveis (-0,2).
“Nesse ambiente de juros altos por mais tempo”, lembra o economista da XP, Rodolfo Margato, “os bens de capital, ou seja, máquinas, equipamentos direcionados a investimentos e também os bens de consumo duráveis, que dependem mais das condições de crédito, de financiamento, acabam sofrendo mais”. Em entrevista à CNN, Margato ressaltou que a demanda das famílias e empresas por bens como automóveis, móveis, produtos eletrônicos vêm arrefecendo desde a metade do ano passado.
“Os juros mais altos, em um quadro de endividamento, acaba reduzindo as intenções de compra por esses bens. Naturalmente, em uma dinâmica de política monetária apertada, o consumo, os gastos das famílias e empresas com bens duráveis acabam contraindo mais”, diz Margato. O número de brasileiros inadimplentes no país saltou de 59,3 milhões, em janeiro de 2018, para 70,1 milhões, em janeiro deste ano, de acordo com a Serasa Experian.
No início deste mês, a associação que representa as montadoras de veículos (Anfavea) divulgou que o setor registrou em fevereiro os menores níveis de produção dos últimos sete anos. O volume de veículos produzidos foi 2,9% menor do que em fevereiro do ano passado. No total, 161,2 mil veículos foram montados, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus. Já as vendas de carro 0 km tiveram uma queda de 1,8% em fevereiro em comparação ao mesmo período do ano passado. Em relação a janeiro de 2023, houve uma queda de 9%.
As vendas da indústria de materiais de construção no país também registraram queda no mês de fevereiro, – 0,9% contra o mês anterior e -5,5% em relação a fevereiro de 2022, segundo um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). No acumulado dos dois primeiros meses deste ano, o recuo é de 4,7%.