A empresa que venceu o leilão de concessão do Trecho Norte do Rodoanel Mario Covas de São Paulo nunca atuou com construção pesada e possui um quadro de apenas 20 funcionários.
A privatização do Rodoanel foi intensamente celebrada pelo governador Tarcísio de Freitas, que ficou batendo o martelo da B3 com tanta força para tentar quebrá-lo ao marcar fim do leilão que gerou constrangimento.
O grupo vitorioso, a Via Appia Fundo de Infraestrutura e Participações, é gerido pela Starboard Asset, uma empresa se apresenta como o primeiro fundo de crédito para empresas em “crises não estruturais”.
Tal descrição está causando muitos questionamentos quanto à confiabilidade da empresa que terá o papel de desenvolver um dos projetos mais grandiosos do estado.
Na B3, participaram do leilão ao lado de Tarcísio dois executivos da Starboard, Marcus Bitencourt, diretor da Starboard Asset, e Brendon Ramos, responsável pela área de private equity e de reestruturação da empresa.
A Starboard foi fundada em 2017 por executivos que trabalhavam com reestruturação de empresas na Brasil Plural. Em 2018, o fundo comprou e assumiu o controle da Máquina de Vendas, que era dona da Ricardo Eletro, que à época era uma das maiores varejistas de eletrodomésticos do país.
O fundo deixou a Maquina de Vendas em agosto de 2020, pouco antes dela entrar com um pedido de recuperação judicial. Em 2022, a Máquina de Vendas teve sua falência decretada, mas a decisão foi posteriormente suspensa por ordem judicial.
Sem atuação direta na construção de rodovias, a Starbord teve atuação mais próxima com esse ramo em 2021, quando assessorou, em conjunto com o Felsberg Advogados, os debenturistas da concessionária na transferência do controle da Rodovias do Tietê aos seus mais de 15 mil credores.
De acordo com o formulário de referência da Starboard Asset registrado na CVM, em 2021, a empresa possuía R$ 4,495 bilhões sob gestão.
Entretanto, foi no Amapá que a Starboard Partners mostrou sua verdadeira capacidade de gestão. A líder do consórcio é controladora da empresa de energia que causou um apagão de vários dias no Estado em 2020. O blecaute no Amapá foi ocasionado por um incêndio em uma subestação da concessionária Linhas do Macapá Transmissora de Energia (LMTE), da Gemini Energia, controlada pela Starboard Partners.
A subestação tinha três transformadores. Um pegou fogo, o outro estava em reparo fazia mais de um ano. O único que sobrou não suportou a carga e, por isso, os moradores do Amapá ficaram às escuras.
A assessoria de imprensa da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) informou “que, conforme as regras do Edital, todas as concorrentes precisam apresentar atestados que comprovem capacidade técnica de execução. Entre os documentos apresentados deve haver a comprovação da qualificação técnica da licitante. Essa qualificação pode ser demonstrada através de atestado de capacidade técnica, em nome da licitante ou de profissional a ela vinculado, que comprove o cumprimento das exigências técnicas previstas no edital. Na próxima fase, conforme o regramento, a Comissão Especial de Licitação vai analisar os documentos de habilitação da concorrente vencedora do leilão”.
A Via Appia venceu o leilão que disputou com o Consórcio SP Flow (Mercantil do Brasil), Consórcio Infraestrutura SP (Necton Investimentos) e ACCiona Concesiones Ltda.