Juro alto é entrave ao financiamento para as famílias de renda mais baixa, alerta Maria Rita Serrano
Após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, a presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Rita Serrano, afirmou que os juros elevados neste patamar têm um sério impacto sobre as taxas para financiamentos da casa própria.
“A alta de juros causa um problema de funding (captação de recursos) para emprestar recursos com taxas mais baixas no financiamento imobiliário”, disse ela, apontando que a Caixa passa a ter que recorrer a fontes mais caras para captar recursos.
A Caixa Econômica, como banco público, é responsável pela gestão de programas habitacionais e oferta de crédito imobiliário mais baixo.
“A poupança teve retiradas de R$ 100 bilhões no ano passado, e o FGTS, que vem apresentando saques sucessivos e perdendo recursos por causa do trabalho informal. Haverá um problema de sustentabilidade e este é um problema que nós temos que resolver”, acrescentou Serrano, durante apresentação dos resultados financeiros do banco na quinta-feira (23).
Enquanto a Caixa tenta segurar as taxas de juros dos financiamentos, os bancos privados já estão repassando o impacto da Selic para os consumidores. Números recentes divulgados pelo Banco Central (BC) mostram que, em janeiro, a taxa média para crédito imobiliário alcançou a marca de 10,74% ao ano.
“Como o financiamento imobiliário é de alto valor, qualquer queda de meio ponto percentual na taxa de juros tem um impacto muito grande no valor da prestação e no total desembolsado”, explicou Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) em reportagem do Estadão.
Ele exemplifica, afirmando que em um financiamento imobiliário de R$ 500 mil contratado por um prazo de 30 anos, a pessoa pode economizar até 6% (ou cerca de R$ 70 mil) ao final do período, se a taxa de juros do crédito imobiliário cair apenas um ponto porcentual, de 10% ao ano para 9%.
“A taxa de juros segue alta tanto para quem vai construir quanto para quem compra. O mercado está bem pressionado. (…) O segmento médio é o que mais vai sofrer, porque tem pressão inflacionária ainda e o governo federal não tem recurso para investir”, comenta o professor Alberto Ajzental, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A indústria da construção, por sua vez, também critica os juros altos. Antes da reunião do Copom que manteve a Selic a 13,75%, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) divulgou uma nota afirmando que entende que a autoridade monetária precisa reduzir a taxa.
“Os juros altos são entraves ao desenvolvimento econômico do Brasil e podem prejudicar a geração futura de emprego”, ressaltando que os financiamentos habitacionais e os investimentos do setor são altamente impactados com a Selic.