Foi isso que ficou claro nas manobras de última hora que irritaram o governo brasileiro. “Exigências ambientais” absurdas, usadas para barrar produtos do bloco, não foram bem recebidas pelo Itamaraty
As manobras da União Europeia, elevando exigências ambientais descabidas ao governo brasileiro como condição para um possível acordo com o Mercosul, confirmam que o objetivo central dos europeus nestas negociações é o escancaramento das fronteiras do bloco para seus produtos e serviços ao mesmo tempo que se utilizam de barreiras protecionistas – supostamente ambientais – para impedir a entrada de produtos do bloco no continente.
A proposta feita pelos europeus, incluindo um protocolo ambiental de última hora que acompanharia o acordo comercial entre Mercosul e Europa, e o comportamento recente de Bruxelas decepcionam o governo brasileiro. O protocolo apresentado foi considerado inaceitável pelo Planalto. Chegou a ser desrespeitoso com a soberania dos países sul-americanos.
A União Europeia havia solicitado que a proposta fosse mantida em sigilo, mas, duas semanas depois, o texto foi vazado para ambientalistas europeus, que intensificaram as críticas à política ambiental do governo Lula. Ou seja, os negociadores se utilizaram de “ambientalistas” europeus para ajudá-los na criação de barreiras à entrada de produtos do bloco no velho continente.
Segundo o colunista Jamil Chade, do site de notícias UOL, na proposta feita pelos europeus eles fazem exigências ao Brasil que jamais impuseram em outros acordos, como no caso do Canadá, por exemplo. Além disso, transformaram compromissos voluntários do país, assumidos nos acordos multilaterais, como obrigações vinculantes, num tratado bilateral entre dois blocos.
A arrogância da União Europeia nas negociações com o Brasil e com o Mercosul revela que há intransigência e desrespeito, mas a questão de fundo que está vindo à tona é a intenção clara de bloquear a entrada dos produtos do bloco, particularmente dos brasileiros.
O europeus estão insistindo em usar questões de meio ambiente como instrumento para impedir a entrada de produtos do bloco em seus países. Eles querem abrir o mercado do Mercosul e manter fechado o mercado europeu. É o que se depreende desse comportamento criticado pelo governo brasileiro. Aliás, desde o início das negociações, esse sempre foi seu objetivo: obter vantagens unilaterais.
A utilização de barreiras extra-tarifárias, escamoteadas em “exigências ambientais”, não ajudarão nas negociações, ainda mais em um momento em que a Europa intensifica, por conta da guerra e das sanções da OTAN/EUA contra o petróleo russo, o uso de energias altamente poluentes.
O Itamaraty apontou que vai deixar claro aos europeus que, se há uma intenção de fechar o tratado, Bruxelas terá de abandonar tais posturas e negociar a partir de outras bases. O colonialismo, afinal, dizem os brasileiros e os sul-americanos, já foi superado há muito tempo.
O governo brasileiro está decidido a não aceitar medidas unilaterais e nem condições impostas sobre como cada país do Mercosul deve lidar com suas realidades. Ou seja, para membros do governo, os europeus estão revelando sua face protecionista, uma vez mais.
As negociações, conduzidas pelo governo brasileiro estão se deparando com a arrogância e o protecionismo disfarçado, ao mesmo tempo em que o Brasil amplia enormemente as negociações com a China, principal parceiro comercial do país. A Europa, segundo parceiro comercial do Brasil, não pode querer apenas exportar seus produtos e serviços e dificultar a entrada de produtos brasileiros e do bloco usando a questão ambiental como pretexto para seu protecionismo.
Já há muitas opiniões no Brasil que consideram que este acordo do Mercosul com a União Europeia, mesmo em versões anteriores, já não era vantajoso para a região. Com essas exigências absurdas e a arrogância bem ao estilo colonial adotada pelos europeus, a situação fica ainda mais complicada. O Brasil e o Mercosul buscam um acordo do tipo ganha-ganha, ou seja, em que todos os lados se beneficiam. O que a União Europeia parece estar buscando é um acordo em que só ela ganha, o que é, obviamente, inaceitável para o Brasil.