A Polícia Federal marcou o depoimento para o dia 5 de abril, às 14h30
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi intimado pela Polícia Federal e vai ter que prestar depoimento, na próxima semana, sobre o caso das joias que recebeu de “presente” da Arábia Saudita e escondeu da Receita Federal, além da tentativa criminosa de liberar joias apreendidas.
O depoimento foi marcado para o dia 5 de abril, às 14h30.
Seu antigo ajudante de ordens, Mauro Cid, também foi convocado para responder sobre o uso do gabinete presidencial para tentar recuperar ilegalmente o pacote de R$ 16,5 milhões em joias e diamantes que tinha sido apreendido pela alfândega no Aeroporto de Guarulhos.
Jair Bolsonaro voltará dos Estados Unidos nesta quinta-feira (30), após três meses fora do Brasil. Ele fugiu do país um dia antes do fim de seu mandato para não passar a faixa presidencial para Lula, uma vez que dizia, sem apresentar provas, que as eleições presidenciais foram fraudadas.
Também nos últimos dias de seu governo, Bolsonaro e Mauro Cid enviaram, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), um membro da Ajudância de Ordens ao Aeroporto de Guarulhos para pressionar os servidores da Receita Federal, inclusive com um ofício e um telefonema do ex-chefe do órgão, Julio César Vieira Gomes, para que o pacote de R$ 16,5 milhões fosse liberado. O caso foi no dia 29 de dezembro de 2022.
O conjunto de joias era composto por um colar, um anel, um relógio e um par de brincos, todos com diamantes e pedras preciosas. Também havia uma estátua de cavalo dourada.
As joias foram trazidas para o Brasil pelo ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que admitiu que se tratava de presentes da família real da Arábia Saudita supostamente para Michele Bolsonaro. A ex-primeira-dama disse que não tinha conhecimento das joias. Elas estavam escondidas na mochila de um assessor de Bento Albuquerque.
O ex-ministro conseguiu entrar no país escondendo um segundo pacote contendo um relógio, um par de abotoaduras, uma caneta, um anel e um masbaha (espécie de rosário). Tudo era da marca suíça Chopard, conhecida por ser usada entre artistas no tapete vermelho do Oscar. O relógio sozinho é avaliado em cerca de R$ 223 mil.
Documentos comprovam que Jair Bolsonaro recebeu o conjunto, tendo visualizado as peças na entrega, e o incorporou a seu acervo pessoal. Por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), Bolsonaro entregou as joias ao estado brasileiro.
O Estadão revelou que Jair Bolsonaro escondeu um terceiro pacote de joias que também recebeu da família real saudita. A principal peça do “presente” era um relógio da marca Rolex, de ouro branco cravejado de diamantes, cujo valor chega a R$ 364 mil.
As outras peças, como a caneta da Chopard, um par de abotoaduras em ouro branco, um anel em ouro branco e um rosário árabe, também tinham diamantes e pedras incrustadas. Ao todo, o conjunto foi avaliado pelo Estadão em, no mínimo, R$ 500 mil.
Bolsonaro recebeu o “presente” pessoalmente em 2019, quando viajou para a Arábia Saudita. O ex-presidente já falou publicamente sobre sua proximidade com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salma, principal figura da política do país.
Jair Bolsonaro também teve que devolver uma pistola e um fuzil personalizado que recebeu dos Emirados Árabes.
Na época em que os presentes sauditas e árabes entravam no país, o governo Bolsonaro privatizou a refinaria Landulpho Alves, na Bahia, pela metade do preço a um ao Fundo árabe Mubadala, que tem como principal sócio o governo dos Emirados Árabes.
A refinaria acabou sendo vendida para este fundo financeiro por R$ 10 bilhões, quando, na verdade, por ser uma das mais importantes do país, valia o dobro deste preço, R$ 20 bilhões.
Os R$ 16,5 milhões em joias que os membros da equipe de Bolsonaro, chefiada pelo ex-ministro de Minas e Energia, tentaram introduzir clandestina e ilegalmente no Brasil, passa a ser encarada pelos investigadores como forte indício de suborno ou propina em troca do grande desconto dado na compra da refinaria.