“Se fosse cumprir a meta de inflação em 2023 teria que ter juro de 26,5%”, afirmou durante coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, resolveu radicalizar a sua posição e afirmou, nesta quinta-feira (30), que os juros deveriam estar em 26,5% para que a meta de inflação fosse atingida em 2023. “Se fosse cumprir a meta de inflação em 2023 teria que ter juro de 26,5%”, disse durante entrevista coletiva sobre o Relatório Trimestral de Inflação.
Ou seja, Campos Neto não está satisfeito em praticar as maiores taxas de juros reais do mundo e colocar o Brasil na rota da recessão. Num comentário carregado de cinismo, o presidente do BC disse que a taxa extorsiva de 13,75%, que ele insiste em manter, é “um processo de suavização” do cumprimento da meta de inflação. Na contramão de todo o setor produtivo e da sociedade brasileira, ele ameaça claramente, como já fez com a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, que pode aumentar ainda mais os juros.
Ele afrontou o país com a arrogância que está marcando seu comportamento e que foi apontada pelo economista André Lara Resende na entrevista com Miriam Leitão na quarta-feira (29). Disse que vê “uma politização de uma linguagem muito técnica” nas críticas à ata do Copom.
O Brasil inteiro rejeitou o trecho da ata do Copom que diz que o BC “não hesitará” em retomar o ciclo de ajuste se a desinflação não ocorrer como esperado. Ele disse que a “menção de alta de juro na ata vinha desde setembro, de antes da eleição”. O BC insistiu também na afirmação equivocada de que a inflação brasileira é de demanda.
E, com este diagnóstico totalmente equivocado, está elevando os juros e jogando o Brasil numa grave ameaça de recessão e quebradeira de empresas e famílias. Vários são os sinais de que a economia está em retração e o consumo em queda. A produção industrial está em queda, as montadoras estão parando a produção por falta de compradores e grandes varejistas estão entrando em crise. A população está endividada e com sua renda comprimida.
O presidente Lula já havia denunciado que a meta de inflação de 3,25% buscada pelo Banco Central é inatingível e que não é compatível com a realidade brasileira. Ao admitir que para atingi-la tem que jogar os juros para 26,5%, Campos Neto tem a intenção da chantagear o país, mas deixa claro, como Lula já apontou, que esta meta é absurda e deve ser substituída o mais rapidamente possível sob pena de estrangular o país.
“Achei uma expressão impressionante da arrogância do BC de extrapolar sua competência, suas atribuições jurídicas”, disse Lara Resende sobre a ata do Copom. “Por lei, autonomia operacional para garantir a estabilidade de preço e sustentabilidade do sistema financeiro e o pleno emprego. Mas o BC não tem o que dizer sobre questão fiscal, não é atribuição do Banco Central”, acrescentou Resende sobre a pressão de Campos Neto por mais arrocho fiscal.
“O BC está se arvorando com uma equipe de jovens tecnocratas que acreditam piamente nos modelinhos equivocados que eles estão olhando e se acham no direito de passar pito no Congresso, o presidente eleito e o Judiciário. O BC, com a autonomia que lhe foi concedida, passou a se considerar um quarto poder. É um quarto poder que dá lições de moral e se considera acima dos demais poderes. É muito preocupante”, completou o economista.