“Os investimentos deveriam ficar fora do teto por seu caráter essencial e anticíclico para o crescimento”, disse o economista Nelson Marconi
Nelson Marconi, economista, professor da FGV-Eaesp e coordenador do Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo na Fundação Getúlio Vargas, afirmou neste domingo (2), em entrevista ao HP, que os investimentos deveriam estar fora do teto.
“Os investimentos deveriam ficar fora do teto por seu caráter essencial e anticíclico para o crescimento”, disse o professor da FGV. “Da forma como está desenhada a regra, os investimentos continuarão baixos , e ainda mais partindo de um patamar baixo”, observou o economista.
“Acho difícil que se mantenha esse percentual de 70%”, disse Nelson Marconi, referindo-se ao limite para o aumento de gasto em 70% do acréscimo de arrecadação obtido do ano anterior. Na opinião do economista “o Congresso vai aumentar esse índice”. “E o crescimento da economia dependerá se o governo irá canalizar os recursos para o investimento”, opinou o especialista.
Ele já havia dito à Folha que “o desenho proposto pelo governo é melhor e mais flexível, mas que alguns pontos ainda precisavam ser esclarecidos”. “O principal é como aumentar a arrecadação. Se pensarmos num cenário de inflação a 4%, para que a despesa cresça na mesma magnitude, a receita precisaria subir 5,7% acima da inflação. Então o que o governo está apostando no fundo é que vai [conseguir] aumentar a receita”, avaliou.
O problema, disse ele, “é que a única forma de entregar as promessas, considerando o modelo apresentado, é cortando investimentos ou aumentando o caixa. Como é improvável que o governo adote o primeiro caminho, resta saber qual estratégia será usada para captar mais recursos”.
Segundo Marconi, essas metas também só são factíveis se a arrecadação for consideravelmente crescente. “Combinando o que o governo pretende fazer com o objetivo de superávit, a única forma de alcançar isso é através de crescimento de receita. A não ser que vá cortar recursos para saúde, educação, segurança e fiscalização. Aí chega no superávit”, diz.
Sobre a afirmação de representantes da sistema financeiro de que o limite de gastos nos 70% definidos pelo governo estão num patamar bem calibrado, Marconi discorda. Para ele, “o limite é bastante restritivo, e deve ser elevado no Congresso para algo em torno de 80% ou 90%”. “Acho que o governo está colocando um percentual para negociação, porque [70%] é baixo, dado o que ele está se propondo a fazer”, afirma.
Marconi reafirmou que “o ideal seria tirar os investimentos da regra”. “A política fiscal tem que ser anticíclica. Vincular o crescimento da despesa ao aumento de receita é justamente pró-cíclico”, diz. “Tudo bem que há um piso [para investimentos], mas é fraco”, acrescentou.