O ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal abra um inquérito para investigar as células de agrupamentos nazistas no Brasil, “já que há indícios de atuação interestadual”.
Dino, ex-juiz federal e ex-governador do Maranhão, aponta que os envolvidos podem ser indiciados pelo crime de racismo.
“Assinei agora determinação à Polícia Federal para que instaure Inquérito Policial sobre organismos nazistas e/ou neonazistas no Brasil, já que há indícios de atuação interestadual”, informou através das redes sociais.
“Há possível configuração de crimes previstos na Lei 7.716/89”, continuou. Essa lei define os crimes de “discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
A investigação da Polícia Federal será aberta depois da Polícia Civil de Santa Catarina ter prendido e desmantelado uma célula nazista no Estado.
A Polícia Civil apurou que essa organização criminosa cometeu crimes, como agressão e homicídio, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e no Paraná.
Os nazistas do país estão associados e em constante diálogo com uma organização internacional de supremacia branca, cujo nome não foi divulgado.
No dia 29 de março, os policiais civis prenderam dois membros da organização criminosa, Fábio Lentino e Rodrigo de Jesus Tavares. Os dois participavam dos encontros da célula nazista de Santa Catarina e até pagavam mensalidade.
Antes disso, em novembro de 2022, uma operação prendeu oito pessoas que estavam participando de um encontro em uma chácara em São Pedro de Alcântara, a cerca de 30 km de Florianópolis. O caso foi revelado pelo programa Fantástico, da TV Globo.
Os criminosos tinham munições para armas de fogo, facas e canivetes, além de diversos objetos com simbologia nazista. Em seus celulares, a polícia encontrou imagens de apologia a Adolf Hitler e seus crimes. A operação foi realizada após uma denúncia anônima.
Entre os presos estava o português Miguel Angelo Pacheco, que é apontado como um dos líderes do grupo internacional. Em seu celular, foram obtidas mensagens racistas.
O delegado Arthur de Oliveira Lopes disse que “eles foram flagrados em uma situação que configurava nitidamente associação criminosa reunida para prática do crime de racismo, haja vista que estavam reunidos para incitar e induzir ao preconceito e à discriminação”.
Os membros da organização têm passagem pela polícia em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul por casos de agressão e tentativa de homicídio, especialmente contra negros e judeus.
O grupo criou um esquema para trazer armas da Argentina para que fossem usadas em seus ataques racistas. A suspeita é de que essas armas tenham sido utilizadas em um assassinato ocorrido em Curitiba, em 2009.
Considerado líder da organização nazista em Santa Catarina, João Guilherme Correa trocava mensagens com supremacistas de todo o mundo.
Ele chegou a informar os demais criminosos sobre a adesão do grupo criminoso de Santa Catarina à organização internacional. “Irmandade, subimos um degrau na nossa jornada. O trabalho continua, a responsabilidade é ainda maior”.
Existem diversas organizações nazistas internacionais. Uma das mais famosas, a Misanthropic Division, criada na Ucrânia, em 2014, tem células em diversos países europeus. Atualmente, parte dos membros dessa organização criminosa foram para a Ucrânia participar da guerra contra a Rússia.
Em 2016, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou a Operação Azov, que agiu contra um grupo nazista que estava fazendo um recrutamento, em nome da Misanthropic Division, para que brasileiros fossem participar do golpe de estado na Ucrânia.
Os brasileiros tinham contato direto com o Batalhão Azov, grupo paramilitar ucraniano de extrema-direita que ganhou força com o golpe de 2016. O Batalhão Azov, que até hoje usa símbolos nazistas e teve atuação direta no massacre da população russófona do Donbass, foi incorporado às Forças Armadas e recebe financiamento oficial do estado ucraniano.
NAZISTAS NO GOVERNO BOLSONARO
O ex-secretário especial de Cultura de Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, teve que deixar o governo por conta da reação negativa do público a um vídeo em que imita Joseph Goebbels, que foi ministro da propaganda de Adolf Hitler.
No vídeo, que era de lançamento de um prêmio da Secretaria Especial de Cultura, Alvim imitou o cenário e fez a mesma postura que Goebbels em uma de suas mais famosas fotos. Ao fundo, trocou o retrato de Hitler pelo de Bolsonaro, mantendo-o na mesma posição, levemente para a esquerda.
O ex-assessor de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, fez um gesto referente à ideologia de supremacia branca durante uma sessão no Senado Federal.
Filipe, que estava posicionado atrás do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e sabia que estava sendo gravado, fez o gesto com a mão, que se parece com um “OK”, mas mantendo os dedos esticados.
O gesto forma um “W” e um “P”, se referindo a “White Power”, ou “White Pride”, que significa, respectivamente, “poder branco” ou “orgulho branco”. Essa expressão é muito presente nas roupas de nazistas, como os que atuam em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Um homem que assassinou 51 pessoas em uma mesquita na Nova Zelândia fez esse gesto para a câmera quando estava no tribunal sendo julgado.
Filipe Martins foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF). À Justiça, disse que estava apenas arrumando seu terno e foi absolvido.