48% dos brasileiros defendem manutenção das empresas públicas. O especialista Roberto D’Araújo associa a estagnação econômica e a desindustrialização do país ao período das privatizações que ocorreram nas últimas décadas
De acordo com pesquisa do Datafolha, divulgada neste domingo (9), 45% dos brasileiros são contra as privatizações e apenas 38% se manifestaram a favor. Outros 14% não sabem e 3% são indiferentes.
Quando se trata da Petrobrás, a rejeição da privatização da maior estatal brasileira ainda é maior. São 53% contra a privatização e 37% a favor. Em relação aos bancos públicos, os tradicionais Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, 55% são contra a privatização e 36% a favor. No caso dos Correios, 46% é contra e 45% a favor.
A pesquisa foi divulgada pela Folha de S.Paulo após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretar a retirada dos Correios, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a Pré-Sal Petróleo S.A. e mais seis empresas dos programas de privatização do governo Bolsonaro.
A pesquisa também aponta que para a maioria dos brasileiros (67%) os preços dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas privadas, na comparação com os de estatais, são mais caros, enquanto 19% dizem ser mais baratos.
O dado expressa o histórico das privatizações no Brasil. A iniciativa privada, ao abocanhar as empresas e os serviços públicos com suas estruturas prontas pelo Estado por um preço bem abaixo do que seria o seu valor real, passa a cobrar tarifas caríssimas de energia, telefonia, por exemplo, dos consumidores em troca da péssima prestação de serviços e baixos investimentos – quando há –, visando, de forma rápida, obter o máximo lucro.
Nesta lógica, quem mais sofre são as famílias de baixa renda. De acordo com o Datafolha, quanto mais pobre a família, maior a percepção de que os preços privados são mais elevados na comparação com os de estatais.
O professor Roberto D’ Araújo, um dos maiores especialistas em energia do Brasil e diretor do Instituto Ilumina (Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor energético), associa a estagnação econômica e a desindustrialização do país com a chamada era das privatizações, que se iniciou no final de década de 1980.
Desde que começaram as privatizações, o que se viu foi apenas a transferência da propriedade, que passou do povo brasileiros para grupos estrangeiros. Não houve investimentos que criassem novos projetos, apenas mudança de donos.
“Algo de muito errado se deu nesse trajeto, certamente não deciframos o processo de privatização. Na verdade, esses resultados nem deveriam nos surpreender, pois a venda de ativos prontos não implica necessariamente em crescimento. Se novos investimentos não forem exigidos, o capital se retrai. Afinal, os recursos financeiros não são ilimitados e, se parte do capital é usado apenas para transferência de propriedade, nada novo é construído”, apontou o especialista.
MAIORIA DOS PAULISTAS REPROVAM PRIVATIZAÇÃO DA SABESP
Em São Paulo, Estado marcado por diversas privatizações, por exemplo, a da companhia de saneamento (Sabesp) é reprovada pela maioria dos paulistanos. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), declarou no início do ano que planeja entregar a companhia para iniciativa privada até o fim de 2024.
De acordo com a pesquisa, 53% dos entrevistados dizem ser contra a transferência da empresa para a iniciativa privada, enquanto 40% são a favor. A minoria (1%) declara ser indiferente, e 6% não sabem.
Em relação às linhas de metrô e as linhas de trens, os paulistanos demonstraram-se divididos. Segundo a pesquisa, 49% se opõem às privatizações das linhas de passageiros de trens, enquanto 45% afirmam ser favoráveis. Já as linhas de metrô, 47% contra, enquanto 48% são a favor.
Na lista das rejeições de privatizações dos paulistanos ainda, apareceram os bancos públicos (55% dos entrevistados, contra 38% apoiam), e a Petrobrás (52% são contrários, 40% favoráveis).
A pesquisa foi realizada com 1.806 pessoas, acima de 16 anos, de forma presencial, entre os dias 3 e 5 de abril, em 65 municípios de todas as regiões do estado de São Paulo. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.