Depois de passar preso 23 anos por um crime que não cometeu, o negro norte-americano Lamonte McIntyre foi libertado de uma penitenciária do Kansas, após ser inocentado de duplo homicídio e declarado vítima de erro judicial. McIntyre, que está no cárcere desde os 18 anos de idade, sempre negou o crime. “É lindo aqui fora”, foram suas primeiras palavras em liberdade, ao receber o carinho dos familiares.
Em mais um caso de ‘justiça’ venal e racista, a condenação havia sido feita com base em depoimentos de testemunhas que mais tarde se retrataram ou foram desqualificados. O novo promotor encarregado do caso, Mark Dupree, disse que a nova informação coloca em xeque a identificação de McIntyre como o assassino. “À luz desta informação (…) meu gabinete está pedindo à Corte que determine que existe uma injustiça manifesta”, anunciou. A libertação de Lamonte vinha sendo pedida também por manifestantes nas ruas.
“Estou bem, estou feliz”, disse McIntyre aos jornalistas à porta do tribunal de Wyandotte County, ao ser libertado. “Agradeço a Deus, agradeço a toda a gente que me apoiou”, acrescentou antes de abraçar a mãe, Rosie McIntyre, segundo relato do jornal The Kansas City Star, que desde o ano passado vinha denunciando o caso.
Apesar de não haver motivo, arma ou provas físicas que ligassem o jovem negro ao crime, ou sequer provas de que conhecesse as vítimas, um homem de 21 e outro de 34, ele foi preso horas depois do assassinato apenas porque uma testemunha disse que o assassino era parecido com um rapaz que conhecia, chamado Lamonte. Em suma, era o negro da vez.
O testemunho contra ele, de parte de uma parente de uma das vítimas, foi retirado mais tarde, após essa mulher revelar que tinha sido pressionada por um detetive. Também se tornou público posteriormente a existência de uma relação romântica entre uma das advogadas de acusação e o juiz do caso. Assim, há anos familiares e amigos das vítimas já admitem que o jovem não foi responsável pelas mortes.
Nas audiências que o levaram a ser inocentado, a conduta pusilâmine do detetive, já aposentado, a parcialidade do juiz e a falta de provas e de testemunhas foram salientadas pela advogada Cheryl Pilate, no caso há oito anos. E depois a besta do Trump faz beicinho quando os craques do futebol americano tocam o chão com o joelho durante o hino para denunciar o racismo, a injustiça e a impunidade nos EUA.