O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e o economista Luciano Coutinho reuniram-se na semana passada com João Carvalho Leite, presidente da Avibrás para discutir formas de garantir que a empresa, uma das principais da nossa indústria de defesa, permaneça sob controle do capital nacional.
O economista Luciano Coutinho foi destacado, há um mês, para fazer um estudo de políticas de incentivo ao setor de Defesa, cuja estruturação e implementação estarão a cargo do BNDES e por isso se somou na reunião. A informação foi divulgada pelo jornal “Estado de São Paulo”.
Considerada estratégica para garantia da soberania nacional, a Avibrás é uma das pioneiras no Brasil em construção de aeronaves, desenvolvimento e fabricação de veículos espaciais para fins civis e militares e passa por um processo de recuperação judicial há um ano.
As empresas alemã Rheinmetall e a companhia dos Emirados Árabes, Edge Group estão de olho na empresa brasileira, que fabrica o sistemas de lançamento de foguetes Astros e o míssil tático de cruzeiro AV-TM 300.
A Avibras responde por 25% do mercado mundial entre os itens que produz, que incluem mísseis, lançadores de foguetes, veículos blindados, bombas inteligentes, sistemas de comunicação por satélite e veículos aéreos não tripulados (Vant). A empresa está em recuperação judicial pela segunda vez.
Fundada há 60 anos por um grupo de engenheiros do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), a Avibras é conhecida por desenvolver tecnologias inovadoras em sistemas de artilharia, incluindo o AV-LMU, blindado com múltiplas barragens para lançamento de foguetes, e o ASTROS II, um sistema de foguetes e mísseis que é considerado um dos mais avançados do mundo. A empresa também desenvolveu uma variedade de mísseis guiados, incluindo o Míssil AV-TM300, que é capaz de atingir alvos aéreos e terrestres e possui alcance de 300 km, segundo a empresa.
Nesta terça-feira (11), as centrais sindicais lançaram nota conjunta alertando para a necessidade de manter a Avibras sob o controle do capital nacional.
“A venda da principal fabricante de material bélico pesado do país representa grave ameaça à soberania nacional, com perigosa transferência de elevada tecnologia para capital privado internacional. Como forma de interromper esse processo, é necessário que o Governo Federal proíba a venda da Avibras”, defendem as centrais em nota.
“Diante desse quadro que se desenha, as centrais sindicais reivindicam a intervenção do Governo Federal no sentido de proibir a venda dessa indústria. Também é necessário defender o emprego dos 1.400 trabalhadores, assim como garantir o pagamento dos salários atrasados”, conclui a nota.
Venda seria desastrosa para o Brasil
Nota técnica do o Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), elaborada a pedido do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, aponta como “desastrosa” para o processo de industrialização do país a possível venda da Avibras, líder na produção de tecnologias de defesa, para estrangeiros.
“Para o Brasil, as consequências são desastrosas. Trata-se de perder uma das poucas empresas (Avibras) de elevada tecnologia sediadas no país. O que é pior, em um setor estratégico para a soberania nacional, sobretudo em uma situação de escalada dos conflitos a nível mundial com a guerra entre Rússia e Ucrânia, diz o Ilaese.
“O Brasil é um país em acelerado processo de desindustrialização e passa por uma redução na produção de elevada tecnologia – setor com maior valor agregado e gerador de empregos com maior remuneração”, continua a entidade.
Segundo o Ilaese, “o quadro é ainda mais drástico quando estão em jogo empresas de alta tecnologia sediadas no Brasil, cujo processo produtivo e desenvolvimento tecnológico fica a cargo de trabalhadores brasileiros”.
Dossiê sobre a Avibras foi entregue ao Ministério da Defesa em janeiro de 2023 e aponta que o planejamento estratégico da Defesa Nacional passa pela estatização das grandes empresas do setor, integrando-as aos Institutos Científicos e Universidades Federais, informa o Ilaese.
“Esse sistema permitiria manter em solo nacional a fabricação de caças, armamento pesado, cargueiros militares, navios de guerra, helicópteros de combate, foguetes, mísseis, submarinos, tecnologia aeroespacial e naval, sistemas eletrônicos e sistemas de comando e controle. Uma empresa desse tipo, com financiamento estatal, poderia projetar, inclusive, caças modernos e aviões de grande porte”, defende o estudo.