Em março, melhora foi mais intensa entre as famílias de menor renda, principalmente devido à melhora no comportamento dos alimentos no domicílio, segundo Ipea
Enquanto o Banco Central (BC) projeta “persistência” inflacionária para justificar a manutenção dos juros básicos da 13,5% ao ano, pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que os preços desaceleraram em março.
A pesquisa, realizada com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mostra que a inflação cedeu para todas as faixas de renda – com destaque para a influência nos custos das famílias mais pobres. O principal alívio veio dos preços dos alimentos que, após variação de dois dígitos entre 2020 e 2021, agora, avança apenas 0,20% em março.
A variação do IPCA em março de 2023 foi de 0,71%, enquanto no mesmo mês do ano passado os preços subiram mais que o dobro, 1,62%.
Segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, a inflação para as famílias de renda muito baixa somou 0,53% em março, indicador que avançava 1,74% há um ano.
Na outra ponta, os custos para as famílias de renda média-alta ficou em 0,81% este ano, enquanto em 2022 estava em 1,51%.
De acordo com o Ipea, na análise por grupos, os preços dos combustíveis, como gasolina (8,3%) e o etanol (3,2%) para todas as faixas de renda. “Para as famílias de maior renda, o impacto desse grupo foi amenizado, em parte, pelas quedas de 5,3% das passagens aéreas e de 1,6% do seguro veicular”, diz o Ipea.
Para as famílias de mais baixa renda, o peso das energia elétrica com o aumento de 2,3% das tarifas pesa ainda mais no orçamento. O instituto destaca, ainda, as altas, embora com menor intensidade, dos grupos “habitação” e “saúde e cuidados pessoais”, o primeiro impactando as famílias de menor renda e o segundo os segmentos de renda mais elevada. Os produtos de higiene pessoal com alta de 0,72% e o reajuste de 1,2% dos planos de saúde pesaram no resultado.
“Na comparação com março de 2022, houve uma forte desaceleração na taxa de inflação para todas as classes, mas essa redução foi mais intensa entre as famílias de menor renda, principalmente devido à melhora no comportamento dos alimentos no domicílio. Com exceção dos subgrupos de pescados e de aves e ovos, todos os outros 14 segmentos que compõem a alimentação no domicílio registraram variações de preços menores em março de 2023, relativamente ao observado no mesmo período de 2022”, ressalta o Ipea.
De acordo com projeções de economistas, a tendência é que a inflação dos alimentos continue em queda, o que exercerá pressão importante para reduzir os preços gerais e, o que se espera em toda sociedade, os juros exorbitantes praticados pelo Banco Central.
Fábio Romão, da LCA Consultores, afirma que pelos seus cálculos os preços desacelerarão até que cheguem em 1% em agosto, fechando em 1,1% no acumulado de 12 meses ao final deste ano. Atualmente, o índice acumulado até março é de 7% – em fevereiro estava em 10,4%.
Ainda que este movimento seja consistente e as projeções apontem para uma redução de preços em curto e médio prazo, os juros continuam nas alturas e, dessas forma, impedindo o avanço do consumo e empurrando famílias e empresas para uma situação de endividamento insolúvel que atravancam o crescimento da economia nacional.