O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) apreendeu os pássaros raros que o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, mantinha como “coleção” e para vendas, em empresa que usava sua mãe como laranja.
As aves foram apreendidas na casa de Anderson Torres na terça-feira (18). Os animais foram transportados dentro das gaiolas e colocadas em um caminhão.
Anderson Torres mantinha cerca de 60 aves, entre Bicudos e Curiós, em sua residência, em Brasília.
No local, o Ibama encontrou inconsistências nos registros dos animais no Sispass (Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros), indícios de que as aves eram mantidas de forma irregular.
O Ibama suspeita que pelo menos uma ave foi capturada adulta, já que tem uma cicatriz na pata característica de aves que tiveram a anilha de identificação colocada depois de adultas.
Além da apreensão, Torres foi autuado em R$ 52,5 mil por prestar informação falsa em sistema de controle e em R$ 2 mil por mutilar pássaro da espécie bicudo
Sete aves que constavam no registro de colecionador de Torres não foram encontradas no local.
Além da atividade de criação de aves raras, Anderson Torres abriu uma empresa para o comércio dos animais.
O ex-ministro de Bolsonaro passou a empresa para o nome de sua mãe, Amélia Gomes da Silva Torres, mas as aves continuaram em sua casa. Amélia era apenas uma “laranja” de Anderson Torres.
Quando os agentes do Ibama visitaram o local pela primeira vez, ouviram de Amélia que “não é nada dela, que ela não cuida de nada”.
A suspeita é que os animais que não foram encontrados tenham morrido ou tenham sido vendidos.
Além da empresa, Anderson Torres também usava a própria mãe como laranja na criação das aves.
Alguns pássaros foram transferidos para o registro de criação de Amélia, mas mantidos no mesmo endereço de Anderson e da empresa.
Segundo o Ibama, Anderson Torres e Amélia Torres “informavam o mesmo endereço nos respectivos registros de criação, também compartilhado por um criadouro comercial. Essa prática é proibida pela legislação”.
O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse que “o tráfico de animais só existe porque tem muita gente comprando. Então a gente tenta trabalhar em várias situações. Uma é coibir quem vai tirar o animal da natureza. A outra é coibir o comércio desse animal que é considerado, além do crime ambiental do tráfico de animais, crime de receptação e de maus tratos”.
Anderson Torres está preso no 4ª Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal por ter colaborado com a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro.
Torres era o chefe da Secretaria de Segurança Pública do DF, mas viajou para os Estados Unidos dois dias antes do atentado sem deixar nada organizado para a proteção da capital do país.
Em sua casa, a Polícia Federal encontrou a minuta de um decreto presidencial que instalaria um “estado de defesa” sobre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para alterar o resultado das eleições presidenciais.
A PF também encontrou provas de que Torres, quando era ministro da Justiça de Bolsonaro, armou um plano para impedir que eleitores de Lula chegassem em seus locais de votação no dia do segundo turno das eleições. O plano acabou desbaratado pela ação do TSE.