“Essa percepção por parte dos empresários afeta outras questões diretamente ligadas aos juros, agravando a percepção de demanda interna insuficiente, aumentando a dificuldade de obter crédito e influenciando os investimentos”, afirma o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo
A insatisfação dos empresários da indústria com os juros altos no Brasil, que vinha avançando desde 2022 nas sondagens feitas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), bateu recorde no primeiro trimestre deste ano.
De acordo com a pesquisa Sondagem Industrial, divulgada nesta quinta-feira (20), 28,8% dos empresários consultados citaram as taxas de juros elevadas como um dos principais problemas nos primeiros três meses de 2023, sendo um aumento de 5,0 pontos percentuais frente ao trimestre anterior, e o maior percentual registrado na série histórica da pesquisa, iniciada em 2015. A CNI consultou mais de 1.600 empresas de pequeno, médio e grande porte no Brasil.
A indústria brasileira está sentindo os efeitos da demanda restringida pelos juros altos impostos pelo Banco Central com a taxa básica de juros a 13,75% ao ano (Selic).
“Essa percepção por parte dos empresários afeta outras questões diretamente ligadas aos juros, agravando a percepção de demanda interna insuficiente, aumentando a dificuldade de obter crédito e influenciando os investimentos”, afirma o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
No ranking dos principais problemas apontados pela Sondagem da indústria, a demanda interna insuficiente apareceu em segundo colocado, sendo apontada por 33,3% dos empresários.
“Houve aumento de 3,5 p.p. no número de citações na comparação do primeiro trimestre de 2023 com o quarto trimestre de 2022”, cita a CNI na pesquisa, alertando que a fraca demanda “tende a se agravar em 2023 devido ao cenário de juros elevados e à perda de dinamismo da atividade econômica”.
Em fevereiro, a produção industrial nacional recuou -0,2% frente a janeiro, obtendo o terceiro mês consecutivo de resultado negativo, acumulando nesse período uma queda de 0,6%, segundo dados do IBGE. No acumulado do ano, a produção industrial recuou -1,1%, e na comparação anual, caiu 2,4%.
DIFICULDADE DE ACESSO AO CRÉDITO
A pesquisa da CNI apontou também uma piora no acesso ao crédito no primeiro trimestre. O indicador que analisa o acesso ao crédito registrou queda expressiva de 4,7 pontos no trimestre, passando de 42,7 pontos para 38,0 pontos. “O resultado sinaliza dificuldade significativa do empresário industrial em obter crédito, já que, com a queda, o indicador ficou não só abaixo da linha divisória de 50 pontos, como também abaixo da média da série histórica, 39,8 pontos”, afirma a entidade.
“Essa dificuldade para acessar crédito está relacionada ao aumento da restrição nos critérios de concessão, dada a taxa de inadimplência alta, inclusive em razão de eventos adversos de grandes empresas varejistas”, diz Azevedo.
A pesquisa aponta também que apesar de registrar um aumento usual na produção o mês de março, o resultado do mês sucede uma sequência de seis meses em que o indicador estava abaixo dos 50 pontos, ou seja, em queda. Além disso, o índice de evolução do número de empregados encontra-se abaixo da
linha divisória dos 50 pontos desde outubro de 2022, indicando que há percepção de queda do emprego industrial nos dois últimos trimestres.
O nível de estoque, desde julho de 2022, está acima dos 50 pontos, revelando que os empresários estão com dificuldades para ajustar seus estoques, segundo a Sondagem.
Com relação às condições financeiras, a pesquisa também registrou a acentuação das dificuldades no trimestre, com insatisfação dos empresários com a margem de lucro, que caiu de 47,3 pontos para 44,8 pontos, e com a situação financeira, que caiu de 51,8 pontos para 49,7 pontos.