“As falas do presidente do Banco Central no Senado comprovam que o raciocínio da autarquia sobre o processo inflacionário carece de um mínimo de coerência lógica”, observou Aurélio Valporto, presidente da Abradin, ao comentar a audiência pública desta terça-feira (25)
O economista Aurélio Valporto, presidente da Associação Brasileira de Investidores (Abradin), criticou, nesta terça-feira (25), em entrevista ao HP, as teses pró-juros altos defendidas pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na audiência pública realizada no Senado Federal.
“As falas do presidente do presidente do Banco Central no Senado comprovam que o raciocínio da autarquia sobre o processo inflacionário carece de um mínimo de coerência lógica, mas pelo menos ele passou a entender que juros altos combatem apenas inflação de demanda”, ironizou Valporto.
“A partir disso, ele procurou sustentar que a economia brasileira, à beira da recessão, com indústrias demitindo e dando férias coletivas, está com excesso de demanda em relação à oferta”, disse o economista. “Para tal, apontou que bares e restaurantes voltaram a encher, sem observar que cerca de 40% dos bares e restaurantes tiveram prejuízos em pleno fevereiro, mês de carnaval”, argumentou.
“Ademais, bares e restaurantes prestam serviços de baixo valor agregado e dependem de baixos investimentos”, lembrou Valporto. “Por isso a elasticidade do setor é enorme, ou seja, são capazes se ampliar a oferta muito rapidamente. Nesse segmento, um eventual excesso de demanda é positivo e atendido pelo pronto aumento da oferta”, destacou.
“Mas, o auge da desconexão lógica veio quando ele afirmou que a desoneração dos combustíveis é temporária e por isso os combustíveis devem voltar a pressionar a inflação. Ora, combustível é energia, e aumento da energia provoca inflação de custos, que vem, necessariamente, acompanhada de redução da demanda. Portanto, de forma alguma se justificam juros altos que venham a pressionar mais ainda os custos da economia”, argumentou.
“De fato, já vemos há muito tempo a falta de coerência do raciocínio econômico do Banco Central. Baixou demasiadamente os juros no início da pandemia, quando a recessão estava se instalando por conta das quebras das cadeias de produção provocadas pelo ‘lockdown’. É evidente que as taxas de juros baixas não iriam resolver esse problema, mas ajudaram na disparada do dólar que foi uma das principais causas da inflação de custos que veio em seguida”, apontou o presidente da Abradin.
“Depois elevou de maneira descontrolada os juros quando a inflação era de custos, causada pelos aumentos da energia e commodities no mercado internacional, alavancados pela desvalorização cambial”, denunciou. Nesse momento a demanda estava mais do que retraída.
“Mais uma vez”, prosseguiu Valporto, “quando houve a queda da inflação e meses de deflaçāo, provocados pela queda nos preços internacionais do petróleo e das commodities, no segundo semestre de 2022, o Banco Central manteve os juros em patamares estratosféricos alegando que o ‘núcleo da inflação estava alto”’.
“Em outras palavras, a autoridade monetária criou a ‘teoria da deflaçāo inflacionária’, quando os índices de inflação negativos de julho a outubro de 2022 foram a prova mais concreta de que não havia nenhuma pressão de demanda. Àquela época, mediante a queda dos custos, os agentes econômicos optaram por reduzir preços e aumentar a oferta, e não em aumentar lucros, que é o que ocorreria se houvesse pressão de demanda”, assinalou o economista.
“Parece que nosso Banco Central adotou modelinhos matemáticos de dinâmica da inflação com expectativas adaptativas que não guardam absolutamente nenhuma correlação com a economia real, tanto porque as simplificações dos modelos são sempre draconianas diante do número virtualmente infinito de premissas da economia real quanto, pelas atas do Copom e pelo discurso do presidente da instituição, estão adotando premissas completamente equivocadas”, afirmou o especialista.
“Falta conexão do Banco Central com os grandes formadores de preço. Se fizesse isso, descobriria, por exemplo, que a Americanas, em sua recuperação judicial, argumentou que a demanda estava reduzida e que mesmo assim foi obrigada a aumentar preços por causa dos elevados custos financeiros. No final das contas, depois de criar a inacreditável teoria da deflaçāo inflacionária, o nosso Banco Central, desconectado da realidade, conseguiu criar os juros inflacionários!”, completou Aurélio Valporto.