“O fato de o presidente da Embraer se recusar a garantir estabilidade no emprego, mostra que os trabalhadores estão ameaçados”, disse Hebert Claros, diretor do sindicato e funcionário da empresa
Desde dezembro, quando a Boeing anunciou o início de negociações com a Embraer, os sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos, Araraquara e Botucatu pediram uma reunião com a direção da empresa para tratar da situação dos trabalhadores. Mas só agora, oito meses depois, quando a proposta de venda já estava fechada, foram recebidos, e a sinalização da direção da Embraer foi: “nós não podemos garantir a estabilidade dos trabalhadores”.
A reunião com o presidente da Embraer, Paulo Cesar Souza e Silva, aconteceu na última sexta-feira (13), no escritório da empresa, em São Paulo. Os sindicalistas, que estão contra a venda, reivindicaram a estabilidade no emprego para todos os trabalhadores da empresa durante e depois da possível transição.
Segundo Herbert Claros, diretor do sindicato de São José dos Campos e funcionário da Embraer, na reunião foi realizada uma extensa apresentação sobre o negócio com a Boeing, com detalhamento sobre as fábricas e cada uma das áreas. Os sindicalistas então questionaram as demissões que estão ocorrendo desde janeiro.
“São demissões fora do que nos parece comum, a gente pediu explicações. Mas eles disseram que são demissões pontuais. No nosso ponto de vista não são demissões pontuais, elas tem sido quantitativamente maiores do que as ocorridas no ano passado e nos anos anteriores”, disse Hebert, em entrevista ao HP. Mesmo sem acesso a informações oficiais, ele estima que mais de 300 trabalhadores já foram demitidos este ano somente na planta de São José dos Campos.
Herbert lembra que ao comunicar venda a direção da Embraer afirmou o processo ajudaria na geração de empregos, “então nós argumentamos que se é assim, eles poderiam garantir estabilidade nos empregos e tranquilizar os trabalhadores nas fábricas. Mas eles disseram: ‘nós não podemos garantir isso’. E ao não garantir isso, a ameaça de demissão continua, inclusive nessa manhã já foram demitidas mais 5 pessoas, e toda semana tem demissões”.
Em meio às negociações, no mês de maio, o Ministério Público do Trabalho recomendou a Boeing e a Embraer a inclusão de “salvaguardas trabalhistas” no acordo de venda, para evitar demissões em massa. Mas o pedido não foi atendido.
“O fato de o presidente da Embraer se recusar a garantir estabilidade no emprego para os trabalhadores é bastante preocupante. Vimos isso como um sinal claro de que os trabalhadores brasileiros estão de fato com seus empregos ameaçados”, reforça.
Herbert também destacou o anúncio feito pela Embraer, na última terça-feira (17), sobre a venda de 300 aviões, que tem valor avaliado em US$ 15 bilhões. Para ele, “os números falam por si só. A Embraer vai vender US$ 15 bilhões em aviões, o que significa uma produção para três anos, e ao mesmo tempo é oferecida pra Boeing por US$ 3,8 bilhões. Qualquer um que entende matemática básica sabe que tem alguma coisa errada”.
Durante a reunião, também foram tratadas as motivações da direção para venda da empresa. A principal insistência do presidente da Embraer é que sem a venda, a empresa corria risco de não sobreviver por falta de capacidade competitiva, porque sua principal concorrente, a canadense Bombardier, foi comprada pela Airbus no segundo semestre de 2017.
Mas, para Claros com o anúncio de ontem, “não tem como dizer que a concorrência está difícil. Que concorrência é essa? As vendas de ontem derrubam esse argumento. A Embraer é líder absoluta no segmento dela”.
Para os sindicatos, “o único objetivo da direção da Embraer é o lucro rápido. O problema é o futuro, uma empresa como a Embraer, depende do investimento em novas aeronaves e isso não vai acontecer com o núcleo da empresa sendo nos Estados Unidos”, explica Claros, que conclui “é evidente que esse acordo vai beneficiar exclusivamente a Boeing. Por isso, continuaremos a pressionar o governo federal para que vete a entrega da Embraer”.
CAMILA SEVERO