Os organizadores da Agrishow, maior feira de agronegócios e tecnologia da América Latina, cancelaram a cerimônia de abertura do evento que estava programada para esta segunda-feira (1º), às 11h.
A decisão ocorreu após a repercussão negativa gerada pelo desconvite do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em favor da presença de Jair Bolsonaro (PL), que busca no evento melhorar sua imagem desgastada por constantes presença nas páginas policiais nos últimos tempos.
O DESCONVITE
O presidente da Agrishow, Francisco Matturro, consultou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, se ele poderia participar do evento na terça-feira (2), pois a presença de Jair Bolsonaro (PL) estaria confirmada no primeiro dia do evento.
O ministro Fávaro, estava presente na cerimônia de abertura do evento, ao relatar o fato na última quarta-feira (26), em entrevista à CNN Brasil, afirmou que entendeu o recado como um ‘desconvite’ da organização da feira.
“Eu fui desconvidado talvez para evitar algum mal-estar. Foi pedido se não seria melhor eu ir no dia 2. Eu entendi o recado, compreendo. Em outra oportunidade, eu visito o Agrishow com muito carinho. Tudo no seu tempo”, disse Fávaro, que lembrou que o país vive um momento de polarização que “precisa ser superado em busca da paz”, “olhar para a frente e entender que as eleições acabaram”.
“Em 2026, terá outra eleição. E todos têm o direito de escolher seu candidato. Mas em 2026. Agora, é hora de trabalhar”, ressaltou.
No entanto, o desconvite de Fávaro gerou consequências negativas para a Agrishow. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República informou que o Banco do Brasil (BB) iria retirar todos os patrocínios ao evento. Em seguida, o BB cancelou o patrocínio, e a presidente do Banco, Tarciana Medeiros, não vai mais palestrar no evento.
Não podia ser diferente, após os organizadores da Agrishow terem deixado a mensagem de que estavam abrindo um palanque para Bolsonaro, em um evento patrocinado pelo governo federal. Ou alguém acha que Bolsonaro só passaria no evento para comer um algodão doce e depois ir embora?
Em seu perfil no Twitter, o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, questionou: “Se a Agrishow não quer o governo federal no evento, não sei se o Banco do Brasil e o governo federal deveriam continuar patrocinando o evento”.
Como de praxe, a figura de Bolsonaro mais uma vez atrapalha o ambiente de negócios no Brasil, algo que o governo Lula, desde que assumiu em 1º de janeiro, tem fortemente atuado para melhorar.
Recentemente Lula foi à China, maior parceiro comercial do País, na busca de melhorar nossa relação com o gigante asiático – que foi minada pelo governo anterior, algo que os organizadores do evento parecem ter esquecido – e fechou acordos que beneficiam os produtos do agronegócio brasileiro.
Não é razoável que a maior feira de agronegócios da América Latina esteja sendo explorada para fazer publicidade a um sujeito que está tendo que ir dar explicações à Polícia Federal sobre a entrada ilegal no país de joias e a incitação à tentativa de golpe de Estado e destruição do patrimônio público realizado por bolsonaristas, no ato do dia 8 de janeiro, em Brasília.
É uma boa forma de perder dinheiro e a credibilidade, como comentaram diversos economistas e especialistas do setor sobre o assunto, ao lembrar que o agronegócio conseguiu chegar no patamar que está hoje, principalmente, pelo aporte do Estado, como crédito subsidiado do BB e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES, isenção de impostos, entre outros benefícios, que demais setores da economia não têm.
NOTA DOS ORGANIZADORES DA AGRISHOW
Em nota, divulgada no sábado (29), os organizadores da Agrishow informaram oficialmente que a cerimônia de abertura do evento foi cancelada “em virtude de toda a repercussão”.
“Em virtude de toda a repercussão gerada pela cerimônia de abertura da 2º edição da Agrishow, as entidades realizadoras do evento (ABAG Associação Brasileira do Agronegócio, ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, ANDA – Associação Nacional para Difusão de Adubos, FAESP – Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo e SRB – Sociedade Rural Brasileira), optaram por não realizar solenidade de abertura da feira, prevista para o dia 1º de maio, às 11h”.
“A Agrishow mantém a sua tradição de ser a principal vitrine do setor apresentando o que há de mais moderno em tecnologia para o agronegócio soluções para pequenas, médias e grandes propriedades, estimulando a realização de negócios”.
“Reiteramos o convite para que mantenha a sua agenda de visita ao evento para conhecer as inovações que estão ampliando a competitividade e o desenvolvimento do setor”, conclui a nota dos organizadores da Agrishow, que não cita o nome do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.