“Quem tem dívidas atrasadas há mais tempo segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência em função dos juros elevados, que pioram as despesas financeiras”
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou, nesta quinta feira (4), os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), indicando que 78,3% das famílias brasileiras continuam com elevado nível de endividamento no mês de abril. “Desse total, 17,3% consideram-se “muito endividadas”, indicador que voltou a crescer após duas quedas, no contexto de juros elevados”, destaca a entidade.
Dentre as famílias endividadas, com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa, aquelas que têm dívidas em atraso atingem o percentual de 29,1%, acima da taxa de 28,6% observada em abril de 2022.
As famílias que declararam que não terão condição de pagar suas dívidas em maio somaram 11,6%, percentual superior aos 11,5% de março e aos 10,9% de abril do ano anterior. O volume de pessoas com dívidas atrasadas por mais de 90 dias segue crescendo. A cada 100 consumidores inadimplentes em abril, 45 estavam com atrasos por mais de três meses.
“Quem tem dívidas atrasadas há mais tempo segue enfrentando dificuldade de sair da inadimplência em função dos juros elevados, que pioram as despesas financeiras”, afirma a economista da CNC, Izis Ferreira.
“A taxa de juros média em todas as operações de crédito com recursos livres às pessoas físicas chegou a 58,3% ao ano em março, 8,7 pontos maior do que no mesmo mês do ano passado, de acordo com os dados do Banco Central”, acrescentou.
JUROS DO CARTÃO DE CRÉDITO A 430%
Do total de consumidores endividados, 86,8% têm dívidas no cartão de crédito, onde os juros são os mais altos do mundo, e 9% com crédito pessoal. O uso do cartão é o maior em um ano, enquanto o do crédito pessoal supera os últimos seis meses.
Os juros extorsivos cobrados pelos bancos no cartão de crédito atingiu 430,5% ao ano em março. Em fevereiro, a taxa estava em 417,4% ao ano, segundo os últimos dados divulgados pelo Banco Central. A taxa atingiu o maior patamar desde março de 2017,
Há uma evidente correlação entre o alto percentual de dívidas no cartão de crédito e a ação dos bancos. Eles preferem colocar à disposição o crédito através do cartão, uma das modalidades mais usadas pelos consumidores para fazer frente a despesas do dia a dia que o salário arrochado não está permitindo fazer.
Segundo a pesquisa da CNC, muitos consumidores têm recorrido ao crédito pessoal, com taxas de juros menores, ainda que bastante elevadas, como registrou a economista da CNC, para pagar dívidas mais caras, como a do cartão de crédito. Não tendo por onde fugir, saltam do fogo para a frigideira que os donos do fogão oferecem.
Demonstra, então, que apesar da alta inadimplência do produto, com os juros na estratosfera, e outros expedientes como das renegociações, é muito vantajoso para os bancos a cessão do crédito através dos cartões.
As taxas proibitivas têm a sustentação do Banco Central (BC), através da Selic, taxa básica da economia, em 13,75% desde agosto do ano passado, mantida pelo Banco Central nesta quarta-feira (3), que asfixia não só os consumidores, mas também o setor produtivo, impedindo os investimentos e o consumo. Sob protestos, Campos Neto, presidente do BC, não só manteve a maior taxa de juro do planeta, como ainda ameaçou aumentá-la.