Sob condenação da Secretaria-Geral da ONU, policiais e forças paramilitares a mando do governo de Daniel Ortega atacaram durante sete horas, na terça-feira, 17, a cidade de Masaya onde morreram pelo menos três pessoas. O bairro indígena Monimbó, na cidade considerada o bastião de resistência à violência perpetrada pelo governo, foi o foco do ataque.
Cedo de manhã, mais de 1.500 policiais bloquearam os acessos a Masaya, a 25 quilômetros de Manágua, a capital que no final de semana foi o centro de mais ataques e onde morreram mais dois jovens, vítimas de forças paramilitares. A repressão nessa região da Nicarágua começou em abril, quando aposentados foram atacados pela polícia durante uma manifestação contra a reforma da Previdência Social que reduzia seus benefícios. Foi o estopim. Desde aquele momento, os protestos só aumentaram e a cidade está cheia barricadas e muros construídos com pedras para se defender dos esquadrões policiais.
A presidente do Centro Nicaragüense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez, acusou o presidente Ortega de provocar um genocídio. “Daniel Ortega está executando uma guerra criminosa contra um povo completamente desarmado. As forças paramilitares atuam como um exército invasor decidido a exterminar o povo”, afirmou, ontem, em entrevista na televisão. O poeta Ernesto Cardenal, um dos principais personagens da Revolução Sandinista e hoje opositor ao governo, afirmou que a Nicarágua vive um “terrorismo de Estado”.
A ofensiva do governo ocorreu um dia depois que o chefe da “Operação Limpeza” em Masaya, Ramón Avellán, afirmara que cumpriria as ordens de Ortega e sua esposa, a vice-presidenta Rosario Murillo, “a qualquer custo” e que assim seriam removidas todas as barreiras e barricadas instaladas por manifestantes que protestam contra o governo, e exigem sua renúncia com a convocação antecipada de eleições.
Nesta quinta-feira, 19 de julho, a Revolução Sandinista completa 39 anos e o casal presidencial pretende passar a imagem para o exterior de que no país está tudo sob controle. Porém, o resultado foi o oposto. A repressão na cidade que virou o símbolo da resistência ao governo desencadeou uma condenação imediata das Nações Unidas (ONU), dos Estados Americanos (OEA), assim como da União Europeia (UE).