“Daqui do Brasil, ativistas nicaraguenses localizados em Porto Alegre, Pelotas, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Brasília, em coordenação com outras organizações e pessoas solidárias com a Nicarágua, divulgamos abaixo uma versão resumida do ‘Manifesto por uma Nicarágua Livre e Democrática’, impulsionado por históricos intelectuais e militantes revolucionários sandinistas, como Ernesto Cardenal, Gioconda Belli e Sergio Ramirez.”, afirma a socióloga Maria Mercedes Salgado.
Manifesto por uma Nicarágua Livre e Democrática
A revolução Sandinista, que derrotou a ditadura familiar dos Somoza na Nicarágua em julho de 1979, completará no próximo ano quatro décadas. Foi o último sonho revolucionário perdido, a última esperança que se foi pelo sumidouro da história. Não foi fácil construir um país empobrecido pela ditadura em meio a um conflito marcado por uma guerra civil interna em plena Guerra Fria. Mas ao sandinismo o maior dano não foi ocasionado pela CIA. O que danificou foi a ganância de alguns de seus comandantes, especialmente Daniel Ortega Saavedra.
Em 2007, Ortega retornou à presidência do país. Graças a fraudes eleitorais denunciadas por organismos internacionais, seguiu fazendo isso até agora, violando a própria constituição que impede que uma mesma pessoa esteja à frente do país mais de dois mandatos. O que estamos vendo nestes dias na imprensa, as revoltas de milhares de nicaraguenses, não é mais que o resultado de quase 12 anos de deriva autoritária.
Não foi o rebaixamento das pensões que provocou a saída dos jovens às ruas. Isso foi somente a faísca. É mais de uma década de um governo que já nem sequer se preocupa em maquiar suas formas ditatoriais e antidemocráticas. As mãos de Ortega e Murillo se mancharam com o sangue de mais de três centenas de compatriotas: estudantes, camponeses, jornalistas, jovens, povo trabalhador das periferias urbanas.
Os nicaraguenses saíram às ruas para gritar “basta!”. Fizeram-no de maneira pacífica, mas o governo de Ortega e Murillo, através da polícia, forças antimotins e forças paramilitares estão a massacrá-los.
Ortega não respeitou os acordos estabelecidos no Diálogo Nacional, usando este espaço para ganhar tempo enquanto manteve ativa a repressão. Mais recentemente, líderes sociais que estão na mesa do diálogo começaram a ser perseguidos e assediados.
Há somente uma via para a solução pacífica e democrática da situação nicaraguense: é preciso interromper imediatamente a repressão de Daniel Ortega e Rosario Murillo e os crimes cometidos pelo casal contra o seu próprio povo merecem ser julgados por tribunais independentes.
Demandamos o fim do assédio contra líderes sociais e ativistas dos movimentos sociais, assim como o fim de prisões políticas, particularmente de jovens.
Os nicaraguenses merecem nossa solidariedade, que como escreveu Gioconda Belli é a ternura dos povos. Por isso, os signatários abaixo pedimos que a comunidade internacional repudie os massacres contra a juventude e o povo nicaraguense, abrindo os olhos e o caminho para a expressão democrática e livre da Nicarágua.
Assinaturas
1- Maria Mercedes Salgado, socióloga, São Paulo, SP 2- Isabel Martinez Artavia, cineasta, Rio de Janeiro, RJ 3- Ana Mercedes Sarria Icaza, professora, Porto Alegre, RS 4- Amalia E Fischer P, feminista e comunicadora, Rio de Janeiro, RJ 5- Edgar E. Sarria Icaza, médico, Porto Alegre, RS 6- William Héctor Gómez Soto, Professor, Pelotas, RS 7- Ana Marcela Sarria, terapeuta, Porto Alegre, RS 8- Humberto Meza, cientista político, nicaraguense, Rio de Janeiro, RJ 9- Zandra Arguello, psicóloga, Porto Alegre, RS 10- Cecilia Mendoza Vega, pequena empresária, Belo Horizonte, MG 11- Cecilia Medal, socióloga feminista, nicaraguense, Brasilia, DF 12- Caryl Schutze, Engenheiro Mecânico, Campinas, SP 13- Oscar Alejandro Flores Carrion, estudante, Campinas, SP 14- Daniel S. Lacerda, Professor, Porto Alegre, RS 15- Aneron de Ávila Canals, Médico, Porto Alegre, RS 16- Silvia Guerra Talavera, Administradora, Rio de Janeiro, RJ 17-Orfa Marcela Báez Arguello, Engenheira Industrial, Cali, Colombia 18- Igor Pantoja, Sociólogo, Rio de Janeiro, RJ 19- Sonia Corrêa, Pesquisadora da ABIA e co-coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política, Rio de Janeiro, RJ, entre outros