Para o economista José Luis Oreiro, o presidente do BC, blindado pela autonomia, está agindo como elemento da oposição ao manter a maior taxa de juros do mundo
O economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro afirma que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, atua como “um elemento da oposição dentro do BC”. O presidente do Banco Central “faz todo o possível para atrapalhar o crescimento da economia brasileira no governo Lula”, disse Oreiro, ao fazer uma análise sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de manter, na quarta-feira (3), a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, desacelerando ainda mais a economia do país.
“Ele está cumprindo um papel, agora, blindado pela autonomia do Banco Central, que é o de fazer todo o possível para atrapalhar o crescimento da economia brasileira no governo Lula. Ele está agindo como um elemento da oposição dentro do Banco Central. Campos Neto não está sendo técnico, ele está sendo político e, por isso, se ele tivesse ética, ele deveria pedir demissão da presidência do Banco Central”, defendeu Oreiro, em entrevista ao HP.
Leia a seguir:
“Toda a sinalização que o presidente do Banco Central, Campos Neto, deu desde a última reunião era no sentido de manter a taxa de juros. Então, não me surpreendeu nem um pouco. A justificativa que ele deu, de que não existe uma relação automática entre o arcabouço fiscal e a queda de juros, etc, etc, no fundo, foi uma desculpa esfarrapada para ele desdizer o que tinha dito no início do ano, que a taxa de juros permaneceria alta devido a incerteza fiscal.
“Bom, mas a incerteza fiscal foi resolvida, quer dizer, o mercado recebeu bem o novo arcabouço fiscal do Haddad [ministro da Fazenda, Fernando Haddad]. Inclusive, a gente viu isso precificado. Houve uma valorização do real frente ao dólar, a Bolsa de Valores reagiu positivamente. E o presidente do Banco Central resolveu mudar o discurso. Se no início do ano, ele não podia baixar os juros por causa da incerteza fiscal, agora ele diz que ‘não, se resolveu, mas não é bem assim, e, além disso, ainda tem o problema do crédito direcionado‘. Bom, mas aí, o presidente do Banco Central esquece de dizer que esse argumento que ele está usando agora, foi utilizado no governo Temer para se trocar a TJLP [Taxa de Juros de Longo Prazo], que era uma taxa de juros fixada pelo Conselho Monetário Nacional, pela TLP [Taxa de Longo Prazo], que é uma taxa de mercado que acompanha a Selic.
“Eu não consigo fazer uma outra leitura, da postura do presidente do Banco Central do Brasil, que não seja uma leitura política. Ou seja, ele não é um técnico, ao contrário do que ele diz. Aliás, mesmo que fosse, a formação acadêmica e profissional dele não o baliza para ser presidente do Banco Central. Porque ele não tem formação teórica em política monetária. Ele passou sua vida profissional inteira como um operador do mercado financeiro. Quer dizer, isso não tem nada a ver com a condução da política monetária, de fixação de taxa de juros.
“Mas, além de não ter o perfil técnico, a gente vê pelas declarações, pela postura dele, inclusive nos casos registrados no ano passado do presidente do Banco Central participar de um grupo de WhatsApp de bolsonaristas, de ter ido votar nas eleições do ano passado vestido com a camisa da Seleção Brasileira que, no caso, identificava ele como um eleitor do Bolsonaro. Então, ele está cumprindo um papel, agora, blindado pela autonomia do Banco Central, que é o de fazer todo o possível para atrapalhar o crescimento da economia brasileira no governo Lula. Ele está agindo como um elemento da oposição dentro do Banco Central. E isso não é uma posição técnica. Isso é uma posição política. Campos Neto não está sendo técnico, ele está sendo político e, por isso, se ele tivesse ética, ele deveria pedir demissão da presidência do Banco Central.”
ANTONIO ROSA