“Tem que ser um projeto de Estado”, destacou Sérgio Bacci, presidente da subsidiária da Petrobrás
A Transpetro criou um grupo de trabalho para preparar, em 60 dias, o projeto de retomada da construção de navios no Brasil. A companhia é o braço de logística da Petrobras, responsável por operar embarcações e dutos para atender à estatal.
O anúncio foi realizado pelo presidente da empresa, Sérgio Bacci, na quinta-feira (4). Segundo ele, a retomada da indústria naval brasileira deve ser encarada como uma prioridade de Estado, não somente de governo.
“Chego à Transpetro com a missão de retomar a construção de navios em estaleiros brasileiros. É a primeira decisão dessa gestão e, para isso, já criamos um grupo de trabalho que em 60 dias apresentará um projeto com o novo modelo de contratação e o número de embarcações”, afirmou o executivo em entrevista coletiva à imprensa.
Ele pleiteia a inclusão do plano no novo programa de desenvolvimento anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em abril. Criado aos moldes do antigo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o programa listará as obras prioritárias do governo.
“Precisamos construir navios no Brasil, mas não será a qualquer preço e a qualquer prazo”, disse Bacci. Segundo o executivo, a construção será financiada pelo Fundo da Marinha Mercante – administrado pelo Ministério dos Transportes e cuja utilização de recursos foi flexibilizada pela lei da BR do Mar.
PÁGINA VIRADA
Bacci reforçou que as discussões sobre a privatização da companhia são uma página virada. O foco agora é na retomada dos concursos públicos, na ampliação de clientes, no aumento da capacidade de operação e dos serviços oferecidos pela empresa.
Em vídeo aos trabalhadores da estatal, ele acrescentou que a privatização não está na rota da Transpetro, e sim a expansão da companhia. Bacci acrescentou que a atual gestão buscará incansavelmente crescer e ser exemplo. “Iremos retomar a construção de navios para a frota da Transpetro, tanto para cabotagem como de aliviadores. Isso faz parte de um projeto de soberania nacional e irá gerar emprego e renda para os brasileiros”, afirmou Bacci, em vídeo direcionado aos trabalhadores da Transpetro, por ocasião do Dia do Trabalho, celebrado na última segunda-feira (1º).
“Para a indústria naval ser efetiva, ela precisa ser perene, ter demanda de longo prazo. E infelizmente, aqui no Brasil, você vive de altos e baixos. Tem dez anos de construção naval forte, depois passa outros dez anos sem encomendas. Precisamos construir o projeto pensando no país, não no governo. Tem que ser um projeto de Estado. Independentemente de quem esteja na gestão, o projeto precisa sempre continuar”.
Para acelerar as construções, um dos caminhos é estimular estaleiros atualmente parados a retomarem os trabalhos. Nesse sentido, a Transpetro também disse ter avançado em conversas com o TCU e a CGU.
“O estaleiro faz parte de um grupo econômico, que fez acordo de leniência, ou seja, o problema está pago. Se fez o acordo, não tem porque não ser contratado. Isso é uma das coisas que conversei com a CGU e ela concorda. Então, a gente tem esse tipo de estaleiro que é uma solução rápida. Há os que não fizeram acordo de leniência, mas a CGU está aberta a conversar. A gente precisa superar essa fase. Se não, nunca mais vamos contratar no Brasil? Vamos continuar contratando tudo na China? É isso que a gente quer para o país? Precisamos andar para frente”, afirmou o presidente da Transpetro em relação às investigações da Operação Lava-Jato.
“Na terça-feira, eu fui até Brasília visitar a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) para que eles acompanhem desde o momento zero esse projeto de construção de navios. Eu quero acompanhamento de perto dos órgãos de controle. E as duas instituições se colocaram à disposição para fazer esse trabalho”.
EXPANSÃO DA FROTA
A subsidiária da Petrobras atualmente tem 26 navios e contrata os serviços de outros dez de origem estrangeira. Os 26 foram construídos via Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota), que integrou o PAC.
Segundo Bacci, o novo projeto da Transpetro será diferente do Promef. “Aprendemos muito com a história, na hora que vou ao TCU e à CGU, estou dando um recado concreto: não quero que tenha problema”, disse. O executivo afirmou que quer um programa de construção de navios no Brasil “extremamente sustentável do ponto de vista econômico, de necessidade, mas [sobretudo] de controles”.
Em termos financeiros, a Transpetro informou que é superavitária e não tem problemas de caixa. Dentre as fontes disponíveis de recursos está o Fundo da Marinha Mercante, constituído em 1958 para financiar a indústria naval. Mas a companhia também está se juntando à Petrobras e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na Comissão Mista que vai discutir outras possibilidades de investimentos.