Em abril, retiradas da popular caderneta de poupança superaram os depósitos em R$ 6,252 bilhões
Com a inadimplência em nível recorde e os juros altos, os brasileiros estão recorrendo à poupança para arcar com seus compromissos. Em abril, os saques da caderneta superaram os depósitos em R$ 6,252 bilhões, segundo o Banco Central (BC). Nos primeiros quatro meses de 2023, os saques alcançaram R$ 66,2 bilhões – o maior valor da história, e quase três vezes mais (142,2%) do que no mesmo período do ano passado.
Pesquisa da Serasa Experian mostra que mais de 70 milhões de brasileiros estão atualmente com o nome negativado, ou seja, com dívidas em atraso. O cartão de crédito, com juros que acompanham a taxa básica da economia, continua sendo a principal forma de endividamento. Depois, chamam atenção o crescimento de dívidas com contas básicas, como água e luz, como efeito rebote do endividamento das famílias. A poupança, então, antes usada para investimentos de longo prazo – como financiamentos de imóveis – passou a ser o recurso para que os brasileiros honrem seus compromissos no final do mês.
Além disso, para uma parcela menor da população, a rentabilidade da poupança não figura um grande atrativo já que a Selic se mantém em 13,75% ao ano, enquanto a remuneração da poupança equivale a 8% ao ano.
“Pelo lado da oferta, o que a gente tem observado é que está acontecendo um ritmo muito grande de saques em poupança. Esse ritmo está associado a duas coisas: de um lado, taxa de juros elevadas, que tornam mais atrativo você ter aplicações financeiras mais próximas da taxa Selic do que a poupança, essa poupança que é a mais líquida que você tem para pagar um pedaço de suas dívidas”, explica o pesquisador associado da FGV/Ibre, Livio Ribeiro.
Os efeitos de se praticar a maior taxa de juro do mundo e da fuga de recursos da poupança têm grande impacto sobre o crédito imobiliário. É dos recursos da poupança que os bancos tiram dinheiro para financiamento de imóveis e, sem essa fonte, passam a usar outras formas de investimento que resultam em juros mais altos para quem quer adquirir a casa própria.