PATRICE LUMUMBA
(HP 05/12/2003)
“Vitoriosos combatentes da independência, hoje vitoriosos, os saúdo em nome do Governo Congolês. Todos vocês, meus amigos, lutaram incansavelmente ao nosso lado, peço-vos que façam deste 30 de junho de 1960 uma data ilustre que vocês trarão indelevelmente gravada em seus corações, uma data com um significado que vocês ensinarão a vossos filhos. A gloriosa História da nossa luta por liberdade.
“Nenhum congolês digno deste nome jamais será capaz de esquecer que foi através da luta que foi conquistada, uma luta dia após dia, uma luta ardente e idealista, uma luta na qual o que não nos faltou foram privações nem sofrimento, e pela qual demos nossa força e nosso sangue.
“Somos orgulhosos nesta luta, das lágrimas, do fogo, do sangue, do mais profundo do nosso ser, porque era uma luta justa, nobre e indispensável para por fim a uma escravidão humilhante que nos era imposta pela força.
“Este foi o nosso destino por oitenta anos de um regime colonial; nossas feridas estão muito frescas e dolorosas para que possamos tirá-las de nossa memória. Conhecemos o trabalho tormentoso, extorquido em troca de salários que não nos permitiam comer o bastante para afastar a fome, ou para nos vestir, ou para que pudéssemos morar com decência, ou criar nossos filhos como criaturas caras a nós.
“Conhecemos ironias, insultos, pancadas que duravam o amanhecer, o meio-dia e o anoitecer, porque somos negros.
“Vimos nossas terras assaltadas em nome de leis que de fato só reconheciam a força como direito.
“Vimos que a lei não era a mesma para um branco e para um negro, acomodada para uns, e cruel e desumana para os outros.
“Testemunhamos os sofrimentos atrozes dos condenados por suas opiniões políticas ou crenças religiosas, exilados em seu próprio país, seu destino verdadeiramente pior que a própria morte.
“Testemunhamos que nas cidades existiam casas magníficas para os brancos e barracos para os negros, que um negro não era admitido num cinema, nos restaurantes, nas lojas dos europeus; que os negros viajavam nos porões, aos pés dos brancos em suas cabines luxuosas.
“Quem jamais esquecerá os massacres onde muitos de nossos irmãos pereceram, as celas onde foram jogados os que se negaram a se submeter a um regime de opressão e exploração?
“A República do Congo foi proclamada e nosso país está agora nas mãos de seus próprios filhos.
“Juntos, meus irmãos, minhas irmãs, estamos a caminho de começar uma nova luta, uma luta sublime, que conduzirá nosso país à paz, à prosperidade e à grandeza.
“Juntos vamos estabelecer justiça social e garantir que todos terão uma remuneração justa por seu trabalho.
“Vamos mostrar ao mundo o que o homem negro é capaz de fazer quando trabalha em liberdade e vamos fazer do Congo o centro da radiação solar para toda a África.
“Vamos tomar conta das terras de nosso país para que delas tirem verdadeiro benefício os seus filhos. Vamos restaurar as leis antigas e promover novas que serão justas e nobres.
“Vamos por um fim à supressão da liberdade de pensamento e veremos que todos os nossos cidadãos desfrutarão das liberdades fundamentais previstas na Declaração dos Direitos Humanos.
“Vamos dar um fim à discriminação de todo tipo.
“E para tudo isso, meus caros compatriotas, estejam certos que contaremos, não apenas com nossa imensa força e imensas riquezas, mas com a assistência de inúmeros países cuja colaboração aceitaremos se ofertada livremente e sem a tentativa de imposição de uma cultura alienígena, não importa qual seja sua natureza.
“O novo Congo, nossa querida República que meu governo vai criar, será rico, livre e próspero.
“Conclamo-os a esquecer suas disputas tribais. Elas nos exaurem. Elas trazem o risco de sermos humilhados no exterior.
“A independência do Congo marca um passo decisivo em direção à libertação de todo o continente Africano.
“Nosso governo, forte, nacional, popular, será a saúde de nosso país.
“Conclamo a todos os cidadãos congoleses, homens, mulheres e crianças, a tomarem de forma resoluta a tarefa de criar uma economia nacional próspera que garanta nossa independência econômica.
“Glória aos combatentes da libertação nacional!
“Viva a independência e unidade Africanas!
“Viva o Congo independente e soberano!”
(30 de junho de 1960 – Discurso na Proclamação da Independência do Congo)