Para Jean Prates, não faz sentido brigar tanto pela autossuficiência, ser até exportador, brigar pela autossuficiência em refino, penalização o brasileiro
O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, afirmou, em entrevista ao Globo, desta sexta-feira (12), que a nova política de preços da estatal “vai ter preço inexoravelmente mais baixo que o PPI”. declarou Prates, em entrevista ao jornal O Globo.
Hoje, os preços dos produtos que são produzidos pela Petrobrás são atrelados às variações dos preços do dólar e do petróleo no mercado internacional, mais os custos do importador, fazendo com que os preços dos combustíveis sejam absurdamente caros internamente. “Isso tudo com a penalização do brasileiro”, disse o presidente da Petrobrás. Para Paul Prates a mudança na política de preços da Petrobrás será feita, pois o Brasil “autossuficiente em petróleo e quase autossuficiente em refino não pode estar na mesma situação que o Japão, que não produz uma gota de petróleo, ou Vanuatu, que nem refinaria tem”.
Segundo Prates, essa mudança “tem que ser feita com sabedoria e calma. Na campanha, o presidente Lula falou em abrasileirar o preço. Falei várias vezes que a gente tem que se libertar do dogma do PPI. Não faz sentido brigar tanto pela autossuficiência, ser até exportador, brigar pela autossuficiência em refino e dizer ‘agora o preço aqui é o de Roterdã mais o frete’”, criticou.
Questionado se os preços dos combustíveis continuariam colados ao valor do petróleo no mercado internacional, Paul Prates afirmou que “esse mistério vai acabar já. Daqui a pouco a gente vai anunciar. O que vamos divulgar é a estratégia comercial da Petrobrás quanto a preços. Não é política de governo. É o que a Petrobrás vai praticar como estratégia comercial respaldada nas vantagens competitivas de produzir e refinar no Brasil”, explicou o ex-senador, que acrescentou.
“Vai mudar até a terminologia. Será estratégia comercial ou composição de preço, porque vai incluir o fato de você ser um bom ou mau cliente ou se tem mais ou menos crédito comigo”, disse Prates, ressaltando que a estratégia comercial vai envolver “a melhor opção para o consumidor. “É não perder aquele cliente. Ser sempre a melhor opção onde quer que você esteja em uma área de influência da refinaria. Ele [o consumidor] “vai ter preço inexoravelmente mais baixo que o PPI”, declarou.
Sobre a nova composição de preços da Petrobrás, Prates disse, ainda, que “será um modelo sem deixar de lucrar. Cada área de influência de refinaria vai ter um. E não é só por região. É por cliente também. Se você compra muito, faço um preço melhor. Se comprar para entregar no Porto de Santos é uma coisa, se comprar para entregar no interior, é outra. Mas a Petrobrás vai ser sempre a melhor opção de preço”, explicou.
O presidente da Petrobrás também afirmou que haverá mudanças na política de dividendos da estatal. “A gente vai discutir no Conselho. Os acionistas privados participam. Já se pressupõe que não vai ser uma loucura”, afirmou.
Nos últimos anos, os 63% de acionistas privados da companhia – na sua maioria estrangeiro – têm arrecadado lucros bilionários por conta do desmonte do patrimônio da estatal, da redução dos investimentos e da oneração dos preços dos combustíveis. Só no ano passado, a estatal pagou em dividendos absurdos R$ 215 bilhões aos seus acionistas, deixando de investir e gerar empregos no país.
A Petrobrás registrou lucro líquido de R$ 38,2 bilhões no primeiro trimestre, segundo informou a companhia nesta quinta-feira (11). O Conselho de Administração aprovou o pagamento de R$ 24,7 bilhões em dividendos, como antecipação ao resultado relativo ao ano de 2023.
Indagado sobre a política de dividendos ter atraído um perfil de “investidor” que estava atrás do ganho alto, Paul Prates respondeu que “o desafio que a gente tem é harmonizar melhor o perfil de investidor da Petrobrás”.
“BR: UM ERRO CRASSO“
“A Petrobrás é uma empresa segura, um transatlântico. Se quiser uma lanchinha rápida, pega ações de uma startup de garagem, investe e vai lá para o oceano. Se vier uma onda maior, você pode perder tudo. Se quiser um transatlântico, ele é mais devagar, se move mais lentamente, mas vai entregar lá no outro lado. O investidor que procura segurança é conservador e aceita rentabilidade menor. Achei um erro vender os gasodutos, a BR é outro erro crasso. Não tem outra congênere que fez o que a Petrobrás fez: vender a empresa que interage diretamente com seus consumidores”, observou.
Jean Paul Prates também avalia como um erro a venda dos gasodutos e refinarias e disse que já começou a discutir com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a revisão do acordo que obrigou a companhia a se desfazer de suas refinarias para acabar com o monopólio do refino no Brasil. “A nova gestão não quer isso (vender refinarias) voluntariamente. O Cade tem que dizer o que me obriga a fazer isso”, disse Prates.
“Vamos ver questões realmente técnicas e jurídicas e sair disso com um bom acordo. As circunstâncias mudaram. Refinarias foram vendidas, outras foram ofertadas e não houve proposta. Um novo governo tem o direito de querer fazer de forma diferente. O Cade nunca fez um estudo que comprovasse a necessidade de vender refinarias. Não houve um: ‘de que me acusas?’ A Petrobrás levou voluntariamente as refinarias para vender. E o que aconteceu? O preço mais caro do combustível no Brasil é o da refinaria da Bahia [que foi vendida para o fundo Abu Dhabi, nos Emirados Árabes]”, lembrou Paul Prates.
Sobre a construção de novas refinarias, Paul Prates disse que a ampliação da capacidade de refino no país “não necessariamente” se daria pela construção de refinarias. “A expansão se dá, por exemplo, através da ampliação e da eficiência de unidades existentes. Estamos quase chegando à conclusão aqui que dá para colocar duas Reducs (Refinaria Duque de Caxias) nas refinarias que a gente já tem. São duas Reducs sem comprar um naco de terreno”, avaliou.
Paul Prates afirmou ainda que a estatal pretende rever a concessão de 10 anos do uso da marca da rede de postos BR, adquirida pela Vibra, desde a privatização total da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobrás, em junho de 2021.
“O problema não é só o direito de uso. Nunca vi contrato tão estranho quanto esse. Em um contrato, você cede sua marca para botar um produto seu. Esse contrato permite que você tenha produto de outra origem em posto da Petrobrás”, disse Prates, afirmando que no momento não deverá questionar judicialmente o caso.
“A Vibra virou corporation (sem controlador definido). A gente precisa conversar. Se tem um problema de qualidade do produto, por exemplo, quem se responsabiliza? Ficou um negócio meio cinza. Mas me causa estranheza franquear a marca da Coca-Cola e botar Guaraná lá dentro”.
O presidente da Petrobrás destacou que a estatal deve voltar ao setor de distribuição. “A Petrobrás não pode ficar tão longe do consumidor final, o que não quer dizer que aconteça já no primeiro ano. Ela já cometeu um erro, não pode ser um erro em cima de outro. Não venderia a BR, tenho que pensar o que faço sem ela: pode ser voltar a ter ela ou pode não ser, pode ter alternativas que me obriguem a acelerar processos da transição energética. Não estou dizendo que vai ser judicializado, é sentar com o pessoal e entender o que presidiu esse acordo”, disse Prates.