“Situação de estagnação da economia e juros altos não estão batendo só no pequenininho. Aumentou a participação das grandes nessa estatística”, diz economista
A quantidade de empresas quebrando ou à beira da falência passou a estampar as manchetes no atual cenário de juros altos e economia estagnada. Dados da Serasa Experian antecipados à Folha de São Paulo apontam que, no mês de abril, 93 novas empresas entraram com pedido de recuperação judicial – número que é 43% mais alto do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Os números começaram a crescer em novembro de 2022, mas explodiram neste ano. Até abril, 380 empresas levaram à Justiça pedidos de recuperação.
De acordo com a Serasa, micro e pequenas empresas lideram as dificuldades e pedidos de recuperação. Contudo, o aumento da participação de grandes empresas que estão em dificuldade financeira é um destaque da pesquisa de maio: entre as de grande porte, houve aumento de 60% nos pedidos de recuperação. Americanas, Grupo Petrópolis, Tok&Stok e Light são alguns exemplos de destaque nestes primeiros meses de 2023.
“O que preocupa é que as grandes estão com crescimento maior. Isso mostra que a situação de estagnação da economia e juros altos não está batendo só no pequenininho. Aumentou a participação das grandes nessa estatística. Antes, não era o número que mais crescia”, afirmou à reportagem Luiz Rabi, economista da Serasa.
Também é preocupante o fato de 67% das empresas que pediram recuperação judicial no período serem do setor industrial, ou seja, que produzem com maior valor e tecnologias agregados.
O economista da Serasa não hesita em atribuir a onda de pedidos de recuperação e falência aos juros altos, que inibem o crescimento e geram mais inadimplência.
“A inadimplência só vai começar a cair quando a economia voltar a crescer, o juro voltar a cair e a inflação estiver mais baixa. Já temos alguns avanços, mas ainda está muito no começo para conseguir reverter, e esses números de insolvência entrarem em uma curva diferente da atual”, completa Rabi.
Em relação a falências decretadas, os números também se mantêm altos: foram 91 registros em abril, avanço de 12% na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Com as dívidas crescendo até se tornarem insolventes – à medida que tem como referência a taxa básica de juros da economia a 13,75% – há também um movimento de vendas de ativos e redução de operação, com fechamento de fábricas, lojas e demissões que também não poupam as grandes empresas.
Alguns casos são da varejista Renner, e de outros grandes grupos, como o Pão de Açúcar, Assaí, BRF, Riachuelo e Carrefour.
“As empresas deram uma esticada forte em suas dívidas na pandemia. A Selic foi a 13,75% ao ano, e desde o segundo semestre de 2022, elas fizeram ajustes, cortaram custos, tentaram negociar condições, mas perceberam que era preciso tomar medidas mais duras, como vender ativos”, afirma o advogado Leandro Berbert, sócio da EY Brasil.
INADIMPLÊNCIA ATINGE 6,1 MILHÕES DE EMPRESAS
O Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian revelou que, em abril, o número de inadimplentes somou 6,1 milhões no país. O setor de Serviços foi o mais afetado, com 52,5% do total. As empresas da área de Comércio equivalem a 38,3%, as Indústrias a 7,9%, e o setor primário corresponde a apenas 0,9%.