Petrolífera segue sendo uma das empresas do setor no mundo que menos fazem investimentos
O governo deverá apresentar nas próximas semanas mudanças na composição de preços da Petrobrás e na política de remuneração aos acionistas da estatal. Nesta semana, o Conselho de Administração da petroleira (CA) aprovou o pagamento de R$ 24,65 bilhões em antecipação de dividendos aos acionistas – dos quais 63% serão destinados a acionistas privados, na maioria estrangeiros, seguindo a regra adotada na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A soma refere-se ao resultado da estatal nos primeiros três meses deste ano, com um lucro de R$ 38,1 bilhões. Assim, a Petrobrás continua sendo uma grande pagadora de dividendos e a que pouco investe, na contramão das grandes companhias petrolíferas do mundo.
Sob o governo Bolsonaro, a remuneração dos acionistas da empresa foi turbinada com a criação da diretriz, ainda vigente, que prevê que, em caso de endividamento bruto inferior a US$ 65 bilhões, a Petrobrás deverá distribuir a seus acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e investimentos.
Com a regra, o pagamento de dividendo da estatal saltou dos R$ 10,3 bilhões, em 2020, para R$ 101,4 bilhões, em 2021; e chegou aos chocantes R$ 215,8 bilhões, em 2022. Além das vendas de ativos estratégicos e da política de preços da estatal (chamada de Paridade de Preços de Importação – PPI), esses montantes bilionários , entre 2021 e 2022, só foram possíveis com a redução brutal dos investimentos da petroleira.
Enquanto a direção da Petrobrás pagou US$ 37 bilhões (dólares) aos acionistas no ano de 2022, o investimento da empresa foi de apenas US$ 4,79 bilhões, segundo um levantamento feito pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), com base em números divulgados pela petroleira, o que demonstra a redução dos investimentos da estatal nos últimos anos. Veja na tabela abaixo.
Dividendos Pagos & Investimento Líquido da Petrobrás, em Bilhões US$
Fonte: AEPET (Tabela 1 apresenta, em dólares estadunidenses (US$), os Dividendos Pagos e o Investimento Líquido, sendo este último a soma das aquisições de ativos imobilizados e intangíveis, reduções (adições) em investimentos e investimentos em títulos e valores mobiliários, descontado do recebimento pela venda de ativos (desinvestimentos).
Em 2021 e 2022, destaca o vice-presidente da AEPET, Felipe Coutinho, “a razão média entre os dividendos pagos e o investimento líquido foi de 804%. No 1º trimestre de 2023 foi de 735,6%, enquanto entre 2005 e 2020 foi de 12,7%, em termos médios. Ou seja, houve aumento de 58 vezes no pagamento de dividendos em relação ao investimento no último trimestre, em comparação com a média de 2005 a 2020”, disse Coutinho.
Ele acrescentou que, “os lucros e dividendos distribuídos hoje, são resultados dos investimentos realizados no passado. É evidente que elevar a distribuição dos dividendos, em detrimento dos investimentos, comprometerá o resultado futuro”.
Comparado com outras companhias petrolíferas, fica ainda mais evidente a desproporção entre a distribuição de dividendos e investimentos pela Petrobrás. Veja na tabela abaixo.
Dados consolidados da Petrobrás e grandes petrolíferas de 2022, em Bilhões US$
No primeiro trimestre de 2023, a Petrobrás, apesar de ter a menor receita entre as seis empresas, manteve-se como a maior pagadora de dividendos entre seus pares. No período, a petroleira brasileira também realizou o menor investimento líquido, sendo de apenas 14% em relação à média dos demais.
Dados consolidados da Petrobrás e grandes petrolíferas do 1º trimestre de 2023, em Bilhões US$
“A relação entre os dividendos pagos e os investimentos líquidos demonstram, de forma cabal, como as políticas da alta direção da Petrobrás são discrepantes em relação à gestão das grandes petrolíferas mundiais. A relação da Petrobrás foi 15 vezes superior à média praticada pelas outras petrolíferas”, observou o vice-presidente da AEPET.