O plano era impor uma reunião com Volodymyr Zelensky com pauta pré-estabelecida e pró-guerra. “Sinceramente, eu não vim para o G7 para discutir a guerra da Ucrânia”, disse Lula. O presidente brasileiro preferiu seguir defendendo a paz
Não deu certo a pressão feita por Joe Biden para que Lula reforçasse a posição da Ucrânia num encontro de cartas marcadas entre o presidente brasileiro e o ucraniano. A “conversa” entre os dois acabou não ocorrendo. O Itamaraty havia se queixado de uma “pressão descabida” do governo americano pela realização da reunião.
O presidente Lula reafirmou a posição do Brasil pela paz e pela superação o mais rapidamente possível do conflito e reduziu a importância do desencontro com Zelensky.
O chefe do Executivo brasileiro até tinha feito um esforço para que ocorresse a reunião, mas não para respaldar as posições pró-guerra, pró-sanções e pelo isolamento internacional de Wladimir Putin, como pretendia a “diplomacia” norte-americana.
O líder brasileiro disse que até esperou por Volodymyr Zelensky numa sala reservada para um encontro entre os dois, mas lamentou que o ucraniano tenha desistido da realização do encontro nas condições em que o Itamaraty queria.
Ao ser questionado sobre a não realização da reunião, Lula respondeu que “Zelensky é maior de idade e sabe o que faz”. A afirmação foi feita em coletiva ao final do encontro do G7. “Certamente ele teve outros compromissos. Não faltará oportunidade para uma conversa”, acrescentou o presidente.
A “pressão descabida”, denunciada pelo Itamaraty, feita por Joe Biden, se desenvolveu sobre o presidente Lula e também sobre o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Os dois países fazem parte do BRICS, um bloco que reúne, além dos dois países, a China, a Rússia e a África do Sul e que vem se distanciando cada vez mais das regras unilaterais impostas pelos EUA ao resto do mundo.
Lula fez questão de manter a posição de equidistância e equilíbrio no conflito europeu para poder seguir cumprindo o papel de mediador na luta pela paz. “A proposta da Ucrânia, que vocês já devem ter lido, é na verdade uma proposta de rendição da Rússia. A Rússia não vai aceitar. A proposta da Rússia é a rendição da Ucrânia, que não vai aceitar. Então é preciso criar as condições. E só é possível, na minha opinião, quando parar o tiroteio. E os dois sentarem na mesa”, disse o presidente.
O líder brasileiro também voltou a criticar a instrumentalização do G7 por parte das potências interessadas em fomentar a guerra e desovar armas. Lula afirmou que este não é o fórum adequado para se discutir a guerra na Ucrânia. “Sinceramente, eu não vim para o G7 para discutir a guerra da Ucrânia. Eu disse, no meu discurso, que a discussão da guerra da Ucrânia deveria estar sendo feita na ONU”, argumentou.
Em encontro com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, em Hiroshima, Lula falou das possibilidades de um plano de paz para a guerra da Ucrânia. Para ele, o fato do conflito não estar sendo tratado no âmbito do Conselho de Segurança da ONU mostra a necessidade de reforma do órgão. Guterres concordou e afirmou que foros internacionais como o G20, que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia, têm uma grande contribuição a dar.
Lula falou também de economia e de seu desejo de que o banco dos BRICS crie uma moeda. Ele enfatizou que é essencial reduzir a dependência do dólar e promover uma maior autonomia financeira para os países que compõem o grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Segundo o presidente, essa medida contribuiria para uma maior estabilidade econômica global e ofereceria alternativas às nações que atualmente enfrentam restrições e desafios devido à hegemonia do dólar.
Além disso, o presidente Lula expressou sua preocupação com a possibilidade de uma nova Guerra Fria entre China e Estados Unidos. Ele ressaltou que essa rivalidade geopolítica pode ter consequências devastadoras para o mundo, trazendo instabilidade política e econômica. O presidente enfatizou a importância de se buscar uma cooperação construtiva entre as duas potências, em vez de uma competição desestabilizadora que possa prejudicar a paz e o desenvolvimento global.
Um dos objetivos de Joe Biden, que está com dificuldades de se firmar como candidato à reeleição, já que está amargando baixíssimos índices de aprovação, além de arrastar os países convidados para a guerra da Otan contra a Rússia, era criar atritos entre o continente europeu e a China. Nesse sentido, ele parece ter fracassado também, já que o único integrante do G7 que saiu atacando a China publicamente foi o “poodle” inglês, Rishi Sunak.