Mensagens do celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, mostram que Jair teve reuniões secretas com o procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, com o ex-deputado Aécio Neves (PSDB-SP) e com o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nenhum dos encontros estava registrado na agenda oficial de Jair Bolsonaro e só foram revelados com a quebra de sigilo telemático de Mauro Cid pela Polícia Federal (PF).
A PF obteve as conversas no armazenamento em nuvem do celular de Mauro Cid. No meio de dezenas de crimes que foram revelados, como fraude em cartões de vacinação e planejamento de golpes, Cid conversou com outros membros do governo sobre as reuniões secretas.
Segundo diálogos aos quais o jornal Folha de S. Paulo teve acesso, no dia 30 de abril de 2021, Jair Bolsonaro se encontrou com o PGR, Augusto Aras, que foi indicado por ele mesmo.
Durante todo o governo Bolsonaro, Aras agiu para blindar o ex-presidente. Ele, por exemplo, pediu o arquivamento das denúncias da CPI da Pandemia contra Jair Bolsonaro e seus aliados.
Quando os dois se reuniram de maneira secreta, a CPI da Pandemia estava começando a investigar os crimes do governo Bolsonaro. Na semana seguinte, a Comissão começaria a ouvir os ex-ministros da Saúde do governo Bolsonaro, como Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello, e o então ministro, Marcelo Queiroga.
As mensagens de Mauro Cid ainda revelaram que, no dia 13 de outubro de 2021, Jair Bolsonaro esteve em um encontro na casa do ministro Dias Toffoli, do STF, junto com Augusto Aras e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.
Às 22h18, Mauro Cid falou para o então chefe de gabinete de Bolsonaro, Célio Faria, sobre a reunião e nomeou os presentes. Mais uma vez, o encontro não constava na agenda de nenhum deles.
O deputado federal Aécio Neves, que já foi denunciado diversas vezes por corrupção, teve encontros privados com Jair Bolsonaro em pelo menos duas ocasiões.
De acordo com as mensagens de Mauro Cid, isso ocorreu em 27 de março e 19 de outubro de 2021. A assessoria de Aécio Neves confirmou as reuniões, mas falou que se tratava de discussão de projetos que tramitavam na Câmara.
Outro caso só revelado depois da quebra de sigilo telemático de Mauro Cid foi uma reunião entre Jair Bolsonaro e o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Horbach.
No dia 15 de outubro de 2021, uma sexta-feira, Célio Faria disse a Mauro Cid que “o chefe [Jair Bolsonaro] precisa falar com uma pessoa neste final de semana. Preciso saber o horário e a pessoa pediu para um carro ir buscá-lo”.
Em seguida, fala que a reunião seria entre Bolsonaro e Carlos Horbach. “Precisamos operacionalizar buscar o ministro do TSE onde ele estiver e trazer sem aparecer”.
No sábado (16), às 9h12, Mauro Cid enviou para Célio uma mensagem indicando que Jair Bolsonaro e Carlos Horbach tinham se encontrado: “Min TSE com o Pr [Presidente da República]”.
Alguns dias depois do encontro, Carlos Horbach se posicionou no TSE a favor de Jair Bolsonaro, sendo o único ministro da Corte a votar contra a caracterização como ilícito o disparo de mensagens em massa durante as eleições.