O presidente do banco, que vem lucrando muito com os juros altos, está alertando que essa loucura pode levar tudo a perder, ou seja, pode acabar levando à morte a galinha dos ovos de ouro
Tem hora que parece que as coisas na economia brasileira estão de pernas para o ar. Até o banqueiro, presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, apareceu na imprensa reclamando dos juros altos do BC, isto apesar de seu banco ter lucrado muito dinheiro nos últimos tempos com os juros reais mais altos do mundo praticados por Roberto Campos Neto, colocado no cargo por Bolsonaro, mas que, na verdade, não passa de um preposto do Santander e do setor financeiro.
“Juros altos são perversos, pois aumentam o custo de capital para a economia investir e efetivar decisões de consumo”, disse ele, lembrando que o juro real do país “é o maior do mundo”. A explicação para esse aparente contrassenso – um banqueiro reclamar de juros altos – vem do dito popular que diz que, com essa loucura de juros, “estão querendo matar a galinha dos ovos de ouro”. Ou seja, até o banqueiro do Bradesco percebe que a quebradeira das empresas pode acabar levando tudo junto, inclusive o seu próprio banco.
É só olhar mais ao norte do planeta para entender o que está ocorrendo. Os EUA e a Europa já começaram a viver algo parecido. Elevação rápida de juros – mesmo que, em termos reais, ainda sejam muito menores que o Brasil – agravaram a crise de várias empresas, muitas delas de tecnologia, e provocaram a quebra de um grande banco americano e de outros menores. Assim também ocorreu na Europa, que, como nos EUA, majorou seus juros e acabou quebrando o Credit Suisse.
Mesmo que Campos Neto insista em seu discurso – uma mistura de cinismo e estupidez – de que a inflação brasileira é de demanda, os sinais de que o país está entrando numa grave crise de crédito e de restrição do consumo já são evidentes. Grandes empresas de varejo entrando em recuperação judicial e fechando lojas às dezenas, montadoras parando a produção de veículos e dando férias coletivas, o setor de serviços estagnado, deterioração dos empregos, tudo isso desmonta as narrativas mentirosas de “excesso de demanda” do presidente do BC.
Além disso, já há sinais evidentes de que a inflação começa a ceder e deverá cair mais com a mudança de preços da Petrobrás e o início das quedas de seus preços. As reduções dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha certamente vão colaborar na queda geral dos índices de inflação, segundo vários analistas. Num quadro como este, manter os juros básicos em 13,75% – a maior taxa real do mundo -, como pretende Campos Neto, parece a todos como uma clara sabotagem ao governo e ao País.
Foi o próprio Trabuco que apontou este cenário de queda da inflação em sua análise. “A inflação de 0,61% em abril foi inferior à de março, que, por sua vez, esteve abaixo do índice de fevereiro. A taxa acumulada em 12 meses atingiu 4,18%, a menor variação desde novembro de 2020″, argumentou o executivo do Bradesco.
O presidente Lula tem chamado a atenção também para o fato de que a meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 3,25%, está fora da realidade. Só serve para justificar os juros altos que restringem as atividades econômicas. Uma taxa que não resolve nada e ainda agrava a crise. Seguir com os juros nas alturas, sob pretexto de atingir essa meta irreal, vai acabar estraçalhando a economia do País. Até o Trabuco já percebeu isso. Só resta convencer Campos Neto a parar com essa loucura ou tirá-lo do cargo o mais rapidamente possível.