O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a continuidade da investigação aberta para apurar o possível envolvimento do presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, o deputado bolsonarista Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), com os atos golpistas de 8 de janeiro. A decisão, assinada no dia 17 deste mês, foi tornada pública nesta terça-feira (23), primeiro dia de trabalho da comissão.
Postagens nas redes sociais em novembro do ano passado motivaram as investigações, que tiveram início no Rio Grande do Sul e apuram o suposto incentivo de Zucco aos atos antidemocráticos para reverter o resultado das eleições de 2022 que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva.
Em fevereiro deste ano, após o deputado tomar posse na Câmara dos Deputados, a Justiça Federal enviou o caso para o Supremo em razão do foro privilegiado. Na decisão, Moraes entendeu que o caso pode ter conexão com as apurações sobre atos golpistas que tramitam no Supremo e determinou que a Polícia Federal prossiga com a investigação.
Na representação apresentada ao Ministério Público Federal contra Zucco “para continuidade das investigações” pela Polícia Federal, o magistrado aponta que o parlamentar “estaria perpetrando crimes mediante patrocínio e incentivo a atos antidemocráticos, seja em território gaúcho, seja na cidade de Brasília”.
Com patente do Exército, Luciano Lorenzini Zucco foi eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul em 2018 na onda bolsonarista. Em 2022, se candidatou e obteve uma vaga na Câmara Federal. Na Casa, se juntou aos “patriotas” que tentaram negar a vitória de Lula, e foi apontado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul como incentivador de atos antidemocráticos no estado.
Ainda no cargo de deputado estadual, ele fez postagens nas redes sociais, compartilhando uma foto de uma manifestação com propósitos golpistas em frente ao Comando Militar do Sul e convocou seus eleitores para protestar no local, atentando contra a democracia, o que resultou na sua denúncia à justiça gaúcha.
Por meio de nota, o investigado se disse “surpreso”, chamou de “sensacionalismo” a atuação de alguns órgãos de imprensa e afirmou que não tem nenhum envolvimento com atos antidemocráticos. “Estou tranquilo em relação à investigação e certo de que a Polícia Federal verificará que nenhum crime houve”, alegou.
Além da suspeita de participação em ações que atentam contra a democracia, o deputado apoiador de Jair Bolsonaro, tem várias publicações nas suas redes com mensagens pedindo o impeachment do presidente Lula.
MICROFONE CENSURADO NA CPI
Na sessão de abertura dos trabalhos da Comissão no dia de hoje, o deputado tentou calar a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), integrante da CPI, depois que ela citou investigações autorizadas contra ele pelo Supremo.
“Me inscrevi, senhoras e senhores, para dar uma notícia que acabou de sair na imprensa. Ficaram bastante incomodados com os deputados que falaram a respeito das investigações da Polícia Federal que recaem sobre o presidente, disse Sâmia. “[…] mas acabou de sair a notícia que o Moraes autoriza a Polícia Federal a retomar a investigação do presidente da CPI do MST pela participação em atos antidemocráticos, que até agora o senhor estava dizendo que era mentira”, prosseguiu.
Descontrolado, Zucco então, rebateu dizendo que não ia permitir a fala da deputada, afirmando que a leitura da notícia se comparava a “ataques pessoais”, quando cortou o microfone para interromper a parlamentar.
Na mesma sessão, a deputada fez o também bolsonarista deputado Ricardo Salles (PL-SP), relator da CPI, recuar de suas manobras. Salles tentou uma artimanha para mudar o nome da Comissão para “Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a invasão de propriedade, depredação de patrimônio público e privado e crimes correlatos”. Sâmia protestou e fez o “passador de boiada” declinar.
A deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) identificou criminalização prévia do MST. “O plano de trabalho, se não for corrigido, é um relatório prévio: já está dizendo que houve depredação, invasão, crimes correlatos, já criminalizando o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra”, reclamou.
O deputado Nilto Tatto (PT-SP) sentiu falta da investigação de crimes de invasão praticados por grileiros e grandes fazendeiros. “O relatório da Comissão Pastoral da Terra mostra claramente que a violência está relacionada à invasão de terra indígena, de terra pública, de territórios quilombolas, de assassinatos de lideranças indígenas e ambientalistas e sempre em conflito com grandes latifúndios”, afirmou.
Ex-dirigente do MST, o deputado Valmir Assunção (PT-BA) disse que a CPI serve apenas para “palanque político” do grupo que perdeu as últimas eleições e afirmou que os sem-terra cumprem “papel fundamental na luta pela reforma agrária, agricultura familiar e preservação ambiental”.