Após denúncias, Google Play retirou o jogo chamado “Simulação de Escravidão”, onde podem negociar e açoitar pessoas escravizadas. “Queremos apuração e punição. Racismo é crime e apologia a crime tem que ser combatido”, disse o relator do PL de combate às fake news
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) entrou com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra o Google por abrigar em sua loja, a Google Play, um jogo chamado “Simulação de Escravidão”, onde os usuários podem negociar e açoitar pessoas escravizadas.
O deputado denunciou o caso na quarta-feira (24), quando o jogo ainda estava no ar. O Google só tirou o jogo depois da denúncia.
Em discurso no plenário, Orlando falou que “o jogo macabro prevê que uma pessoa brinque como se fosse um senhor de escravos. É algo inacreditável em um país em que o racismo é crime, um país que viveu as chagas da escravidão”.
Veja:
“Eu denunciei e o Google retirou de sua loja, mas nós queremos apuração e punição. Racismo é crime e apologia a crime tem que ser combatido”, continuou.
O MPF já enviou um ofício para o Google pedindo informações sobre o caso. O órgão informou que haverá uma apuração criminal.
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, através da Coordenação de Promoção da Equidade Racial e da Infância, abriu um procedimento instrutório e vai acionar a Polícia Federal para apurar se houve, por parte do Google, “conduta tipificada como racismo recreativo, com a identificação e responsabilização do autor do fato e das pessoas que fizeram comentários igualmente racistas na plataforma”.
Leia: https://twitter.com/orlandosilva/status/1661818489361821697
O parlamentar, que é o relator do PL de Combate às Fake News, afirmou que “a própria existência de algo tão bizarro à disposição nas plataformas mostra a urgência de regulação do ambiente digital”.
“O PL 2630 é um passo nesse sentido ao regular parte desse ecossistema, que é mais amplo. A regulação das plataformas digitais é um imperativo da civilização contra a barbárie”, continuou.
O jogo chamado “Simulador de Escravidão” foi produzido por uma empresa chamada MagnusGames. Nas avaliações, um usuário disse que era um “ótimo jogo para passar o tempo”, mas “acho que faltava mais opções de tortura. Poderiam estalar (sic) a opção de açoitar o escravo também”.
“Neste simulador de escravidão, existem 3 tipos de escravos: trabalhadores, gladiadores e escravos de prazer. Compre e venda-os. Cada escravo é adequado para um determinado negócio. Treine seus escravos para aumentar seu nível de maestria e renda”, dizia a descrição do jogo na Google Play.
O jogo estava disponível na loja do Google desde o dia 20 de abril.
O Ministério da Igualdade Racial se posicionou sobre o tema e disse que já foi agendada uma reunião com a área de responsabilidade do Google “para construir uma moderação de conteúdo antirracista”.
Enquanto permite a presença de um jogo racista em sua loja, o Google tem gastado energia para disseminar mentiras contra o PL de Combate às Fake News (PL 2.630/20).
A empresa chegou os usuários para links contrários ao PL e também colocou em sua página principal um artigo com falácias sobre o PL, dizendo que o texto poderia “piorar a sua internet”. Por decisão judicial, tiveram que interromper a prática falaciosa e se retratar.
O Projeto de Lei 2.630/20 determina que as redes sociais podem ser responsabilizadas pela circulação de material racista, antidemocrático, de apologia a violência e de outros temas, caso usuários façam alerta sobre o teor criminoso da publicação.