Deputado bolsonarista quer usar CPI para esconder os seus crimes. André Fernandes fez publicação nas redes sociais dois dias antes das invasões às sedes do Três Poderes, em Brasília
A PF (Polícia Federal) concluiu que o deputado André Fernandes (PL-CE) — um dos autores do pedido da CPI dos atos golpistas — incitou a prática de crimes dia 8 de janeiro, quando extremistas bolsonaristas depredaram as dependências dos três Poderes.
Em relatório enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), a PF destacou duas publicações feitas pelo deputado bolsonarista.
O primeiro post foi feito dia 6. Fernandes escreveu: “Neste final de semana acontecerá na Praça dos Três Poderes, primeiro ato contra o governo Lula. Estaremos lá!”.
Na segunda publicação, feita dia 8, o deputado publicou a imagem da porta do armário de togas do ministro Alexandre de Moraes, arrancado e levado por golpistas. Com a foto, ele escreveu: “Quem rir, vai preso”.
Em razão desses fatos, é pouco provável que o deputado bolsonarista tenha condições de figurar como membro da CPI Mista. A participação dele está completamente comprometida. Deverá ser um dos alvos da comissão para prestar depoimento.
DEPUTADO PRODUZIU PROVA CONTRA SI
Para a PF, se a primeira postagem “parece não ser explícita a incitação”, na segunda “depreende-se que o deputado coadunou com a depredação do patrimônio público praticada pela turba que se encontrava na Praça dos Três Poderes”.
A Polícia Federal argumenta, ainda, que o deputado “conferiu ainda mais publicidade” à depredação. “Restando, portanto, demonstrada sua real intenção com aquela primeira postagem, que era a de incitar a prática delituosa”.
Na última quarta-feira (24), o ministro Alexandre de Moraes instou a PGR (Procuradoria-Geral da República) a se manifestar sobre as conclusões da PF. O órgão tem 15 dias para remeter a manifestação ao STF.
QUEM É ANDRÉ FERNANDES
Um dos mais estridentes dentre os deputados bolsonaristas, André Fernandes tem 24 anos, foi o mais votado para deputado federal, no Ceará.
Apoiador de primeira hora de Jair Bolsonaro (PL), Fernandes foi eleito deputado federal com 229.509 votos. Em 2018, ele já havia se destacado no cenário político ao ser o deputado estadual mais votado do Estado, com 109.742 votos, aos 20 anos.
Ele é o que os bolsonaristas chamam de “conservador”.
TÍPICO BOLSONARISTA
Em 2020, os deputados da Alece aprovaram a suspensão por 30 dias do mandato do então deputado estadual André Fernandes — à época, filiado ao Republicanos — por quebra de decoro parlamentar, após o parlamentar acusar, sem provas, o colega Nezinho Farias (PDT) de integrar facção criminosa.
Foram 29 votos sim, 11 não e 4 abstenções.
Em 2021, o então deputado estadual cearense André Fernandes foi condenado a pagar indenização de R$ 50 mil à jornalista Patrícia Campos Mello, depois de publicar nas redes sociais ataques machistas contra a jornalista da Folha de S.Paulo. A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo foi assinada pelo juiz Vitor Frederico Kümpel.
Também em 2021, o MPCE (Ministério Público do Estado do Ceará) ingressou com ação contra André Fernandes por prática de nepotismo. As investigações apontam que ele indicou dois parentes para cargos no gabinete dele na Assembleia Legislativa.
Ele, inclusive, entrou em acordo com o MPCE, e pagou R$ 1 mil de multa. O acordo foi firmado em 19 de agosto de 2021, pelo juiz da 12ª Vara da Fazenda Pública da Comarca da capital cearense.
No começo de 2022, investigação conduzida pelo MPCE revelou denúncia que o deputado André Fernandes (PL) mantinha funcionária fantasma na Assembleia Legislativa do Ceará.
À época, ele afirmou em nota que a funcionária precisou cumprir estágio em academia do curso universitário que fazia e que a contratação da funcionária “se deu de forma regular, sem comprometimento ao vínculo de assessora parlamentar, tampouco prejuízo à administração pública”.
M. V.