O regime que traiu a Revolução Sandinista da Nicarágua, encabeçado por Daniel Ortega e sua esposa, Rosário Murilo, cometeu mais assassinatos na noite desta segunda-feira (23), ceifando a vida de uma brasileira e de três nicaraguenses. Ao todo, já são mais de 370 mortos e centenas de desaparecidos desde que iniciaram os protestos contra as medidas neoliberais do governo que vem usando e abusando da violência oficial e paramilitar.
A estudante de medicina da Universidade Americana (UAM), Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, foi morta a tiros na capital, Manágua, quando paramilitares abriram fogo contra o seu veículo. “Seu companheiro [que vinha em outro carro logo atrás] disse que eram cerca das 11 da noite, que estavam passando próximos à Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN), quando metralharam o automóvel da estudante. Ele a levou imediatamente ao hospital, mas as balas haviam atingido seu coração, seu pâncreas e seu fígado. Não pôde resistir”, lamentou o reitor da UAM, Ernesto Medina. “Pelo que dizem da ferida, tem que haver sido uma arma de grosso calibre. Dizem que foi uma rajada, porém a causa da morte é uma. Me disseram que o carro tem vários disparos. Em seu corpo não sei se tem mais”, descreveu.
Pernambucana de Vitória de Santo Antão, a jovem, que completaria 32 anos em agosto e concluiria este ano o curso, era médica residente do hospital Carlos Roberto Huembes e se definia nas redes sociais como uma pessoa de paz. “Nascida no Brasil, renascida na Nicarágua. Liberdade, luz, paz e amor”, defendia.
Conforme o seu pai, Ridevando Lima, ela tinha se mudado há seis anos para a Nicarágua junto com o marido, cuja família, brasileira, já havia morado no país, e era “muito tranquila, caseira e estudiosa”. Apesar de não participar dos protestos, explicou uma amiga universitária, Raynéia “esteve nos hospitais apoiando os feridos [nos protestos] como médica, assim como muitos de seus companheiros da universidade”. “Era uma menina muito alegre, sempre sorridente e disposta a ajudar”, disse.
Segundo a Coordenadora Democrática, que reúne estudantes universitários que repudiam os atropelos do governo, a brasileira foi assassinada por paramilitares que tomaram o campus da UNAN. A mesma universidade já havia sido banhada em sangue por policiais e paramilitares pró-Ortega no dia 13 de julho, quando mataram dois estudantes com tiros na cabeça. Uma equipe de jornalistas tentou entrar no campus na semana passada mas foi escorraçada por paramilitares, que atiraram para o alto.
As outras três mortes aconteceram na madrugada da última terça-feira em Jinotega, a 143 quilômetros de Manágua, onde policiais e paramilitares atacaram as barricadas do bairro Sandino, que mantém sua população mobilizada exigindo a renúncia do casal presidencial. De acordo com Álvaro Leiva, diretor da Associação Nicaraguense de Direitos Humanos, “além destas três mortes no bairro, pudemos ver que há 25 feridos e 15 detidos”. “Em 24 horas, de domingo para segunda, pudemos contabilizar em todo o país mais de 750 sequestros por parte dos paramilitares, numa clara violação dos direitos humanos”, sublinhou.
LEONARDO SEVERO