O Google gastou R$ 2,1 milhões em publicidade digital ilegal em jornais contra o Projeto de Lei de Combate às Fake News (PL 2.630/20) nas semanas anteriores ao texto ser colocado na pauta da Câmara dos Deputados.
Só nas redes sociais, os anúncios foram exibidos mais de 13 milhões de vezes.
Os dados foram enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF) após determinação.
A propaganda feita pelo Google contra o PL usou argumentos mentirosos e que não tinham base no texto que tramita na Câmara dos Deputados.
O Google pagou para a Meta, empresa dona do Facebook e do Instagram, R$ 639 mil para que sua propaganda contra a regulação das redes sociais fosse veiculada.
Na publicidade, a empresa estrangeira dizia que o PL 2.630 iria “aumentar a confusão entre o que é verdade e mentira no Brasil”. Segundo o NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os anúncios não estavam categorizados sobre política.
Todos os anúncios foram veiculados entre os dias 27 de abril e 2 de maio. O PL 2.630 foi incluído na pauta e poderia ter sido votado no dia 2, mas foi retirado a pedido do relator, Orlando Silva (PCdoB-SP), que voltou a discutir alguns pontos com os deputados.
O Spotify, aplicativo de músicas, recebeu R$ 198 mil do Google para veicular as propagandas contrárias ao PL. Os termos de uso do aplicativo proíbem anúncios sobre política, mas o Google foi liberado.
Os anúncios na Meta e no Spotify, que custaram R$ 837 mil, foram exibidos pelo menos 13 milhões de vezes.
O Google ainda fez anúncios em jornais (digitais e impressos), rádios e em painéis de rua.
Mais de R$ 1 milhão foi usado para anúncios nas páginas da Folha de S.Paulo (R$ 634.023,94) e do Correio Braziliense (R$ 416.632,32).
Na propaganda veiculada na Folha de S.Paulo, o Google disse que o PL 2.630 obrigaria as plataformas digitais a “financiar notícias falsas”, o que é mentira.
As rádios CBN, Antena 1, JB FM, Band News e Nova Brasil também foram usadas pelo Google como meios para sua propaganda contra o Projeto de Lei de Combate às Fake News. Com elas foram gastos R$ 116 mil.
Foram gastos ainda R$ 88 mil para publicidade nos sites da Revista Veja e do Poder360, além de R$ 54 mil na DV360, plataforma de publicidade do Google, e R$ 4 mil no Google Search.
Nas informações dadas pelo Google ao STF estão R$ 3 mil que foram usados para publicidade na WEEOH para publicidade em painéis de rua, chamados mídia out-of-home (OOH).
PROPAGANDA ILEGAL
Além dos anúncios que foram veiculados através de pagamentos, as Big Techs fizeram uma campanha suja usando suas próprias plataformas para mentir sobre o PL 2.630.
No caso do Google, segundo o NetLab da UFRJ, os usuários estavam sendo levados para links contrários ao texto, ainda que sua pesquisa tenha sido neutra.
No YouTube, rede social que é do Google, vídeos contrários ao PL eram sugeridos mais do que os favoráveis.
A empresa também colocou em sua página principal, logo abaixo da caixa para pesquisa, um “artigo” que criticava o PL de Combate às Fake News e dizia que ele poderia “piorar a sua internet”. O Google também chamava a proposta do legislativo de “PL da Censura”.
O Telegram, aplicativo de mensagens, enviou para todos os seus usuários um texto que dizia que o PL 2.630 dava “poderes de censura ao governo”, que poderia remover da internet “opiniões que ele considera ‘inaceitáveis’”.
Nada disso está no texto do PL de Combate às Fake News.