No encontro de chanceleres dos países que integram o BRICS, Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia foi destaque a condenação das sanções unilaterais norte-americanas e a defesa de uma ordem internacional inclusiva como meio de retomada do desenvolvimento global
“Na discussão deste encontro, nos concentraremos em oportunidades para fortalecer e transformar os sistemas de governança global e esperamos soluções para uma recuperação econômica internacional sustentável e inclusiva”, disse Naledi Pandor, ministra das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, ao presidir a reunião dos chanceleres do BRICS que teve início nesta quinta-feira (1º), na cidade sul-africana do Cabo.
Os ministros das Relações Exteriores dos países do BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – debateram uma ampla gama de questões, incluindo alternativas à dependência do dólar e a condenação às sanções unilaterais norte-americanas, assim como as ameaças de sua extensão aos países que a elas não se submeter.
A reunião é também uma preparação para o próximo encontro dos chefes de Estado da organização que será realizada em agosto.
Naledi assinalou que em meio a um crescente coro de vozes levantando a necessidade de usar alternativas ao dólar no comércio global, os Estados-membros do BRICS devem continuar a discutir a introdução de uma moeda comum e o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como Banco dos BRICS, que desde abril é presidido pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff.
“Debatemos ainda como garantir que não nos tornemos vítimas de sanções com efeitos secundários em países que não têm envolvimento nos assuntos que levaram a essas sanções unilaterais”, afirmou a ministra em referência às medidas adotadas pelos países ocidentais contra a Rússia.
O governo sul-africano afirma desejar manter neutralidade em relação à guerra, tem uma relação bem-sucedida com Moscou e defende que o BRICS atue como contrapeso a uma ordem internacional dominada por Washington e seus satélites europeus.
“Vemos uma erosão da arquitetura multilateral global, medidas unilaterais e sanções unilaterais estão se tornando a norma diária enquanto a maioria dos países querendo ter mais influência sobre como a nova ordem global se desenvolve”, insistiu Anil Sooklal, embaixador da África do Sul no BRICS.
“Nossa reunião deve enviar uma mensagem firme de que o mundo é multipolar, está se reequilibrando e que as velhas formas não servem para lidar com as novas situações”, disse o chefe da diplomacia indiana, Subrahmanyam Jaishankar, em seu discurso de abertura.
O GRUPO ESTÁ ABERTO PARA INCORPORAR NOVOS MEMBROS
Os chanceleres dos países do BRICS afirmaram que o grupo está aberto a incorporar novos membros, em sua busca por alcançar um “reequilíbrio” da ordem mundial, durante conversas nesta quinta-feira, 1º de junho.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, afirmou que “mais de uma dezena” de países, incluindo a Arábia Saudita, mostraram interesse em ingressar no BRICS, possibilidade que o grupo está considerando.
“O BRICS está avançando e demonstrando sua força e relevância. É provavelmente o atual centro de gravidade do mundo multipolar e muitos países estão interessados em aderir ao grupo”, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, aos jornalistas na Cidade do Cabo.
“O BRICS é uma das principais plataformas a serem usadas para proteger os interesses e a soberania nacionais”, sublinhou ele.
“A reunião dos chanceleres do BRICS é um encontro relativamente abrangente entre todas as reuniões ministeriais. Envolve assuntos políticos, de segurança, economia e comércio, finanças, intercâmbio cultural e outros”, disse Zhu Tianxiang, diretor do Instituto de Relações Exteriores da Instituto de Pesquisa do BRICS da Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan, disse ao Global Times na quinta-feira.
“Como uma força importante que busca salvaguardar a paz e a segurança mundiais, é crucial que os países do BRICS discutam o conflito Rússia-Ucrânia e formem uma direção ampla para resolvê-lo por meios políticos e diplomáticos”, disse Zhu, referindo-se ao encontro que ocorrerá em agosto e observando que vários países do BRICS têm trabalhando para promover resoluções políticas e diplomáticas.
Questionada sobre a potencial expansão do BRICS em uma coletiva de imprensa de rotina na quinta-feira, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse que “a China sempre sustentou que o BRICS é um mecanismo aberto e inclusivo. Apoiamos a expansão do BRICS e recebemos mais parceiros com ideias semelhantes se juntem à família BRICS o mais cedo possível.”
Autoridades de outros países do BRICS, incluindo o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, também expressaram recentemente apoio à expansão do grupo.
VIEIRA ENCONTRA LAVROV
Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, se reuniu nesta sexta-feira (2) na Cidade do Cabo com Serguei Lavrov, seu homólogo da Rússia, à margem da reunião dos ministros das Relações Exteriores do BRICS, informou a chancelaria russa.
Durante a reunião, que foi descrita como “amigável e construtiva”, foram discutidas questões de âmbito político, comercial e econômico, como a interação entre a Rússia e o Brasil em fóruns multilaterais, principalmente na ONU e seu Conselho de Segurança, no BRICS e no G20.
PREOCUPAÇÕES DA RÚSSIA DEVEM SER CONSIDERADAS DIZ CELSO AMORIM
Em declarações publicadas pelo jornal Financial Times o assessor do governo brasileiro para questões internacionais, Celso Amorim, destacou que “não podemos julgar a situação pelo último 1,5 ano. Esta é uma situação de décadas”.
“A Rússia tem preocupações que devem ser levadas em consideração”, enfatizou Amorim que, sobre a Ucrânia, avalia que “é uma vítima dos resquícios da Guerra Fria”.
Amorim expressou ainda rejeição às sanções antirrussas: “O Brasil acredita que as sanções raramente são o melhor caminho. Elas tendem a isolar o Estado que se envolve em comportamento desviante, minando sua confiança na comunidade internacional, que é importante para chegar a acordos pacíficos”.