Recuo de 0,6% em relação a março, de menos 1,0% no acumulado do ano e de menos 2,7% em doze meses. Produção de máquinas e equipamentos tombou 9,9% e a de produtos alimentícios caiu 3,2%, sendo o quarto mês consecutivo de queda
A produção industrial brasileira recuou 0,6% na passagem de março para abril, com perdas em 16 dos 25 ramos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a Pesquisa Industrial Mensal do Instituto, na comparação anual, a atividade industrial caiu 2,7% e, no ano, acumula queda de 1,0%.
Com a política monetária contracionista do Banco Central (BC) sob a gestão de Roberto Campos Neto, impondo seus juros altos de 13,75% a.a, restringindo a oferta de crédito e reprimindo a demanda de bens e serviços no país, a indústria brasileira não conseguiu manter de em pé o crescimento que obteve em março 1,0%, quando interrompeu dois meses consecutivos de queda.
Variações da produção industrial em abril
– Abril de 2023 contra março de 2023: -0,6%
– Abril de 2023 frente abril de 2022: -2,7%
– Acumulado no ano: -1,0%
– Acumulado em 12 meses: -0,2%
– Média móvel trimestral: +0,1%
A política monetária restritiva do BC, ao impor um alto custo de crédito, força uma diminuição no ritmo das encomendas da indústria, afetando, principalmente, os setores que são mais sensíveis ao crédito, como de bens de capital (máquinas e equipamentos etc.) e de bens duráveis (automóveis, eletrônicos, fogões etc.). Em abril, a produção de bens de capital desabou 11,5% em relação a março. Na comparação com abril de 2022, a queda foi ainda mais expressiva, de 14,2%. Já a produção de bens duráveis desabou 6,9%, e, na comparação anual, recuou 3,5%.
A produção de bens intermediários praticamente estagnou na passagem entre março e abril. O segmento que representa 55% da indústria variou em alta de apenas 0,4% no período. Na comparação anual, a atividade de bens intermediários recuou 2,6%. Bens intermediários são aqueles insumos produzidos para compor outros bens (componentes de televisão, por exemplo). Já a produção de bens semi e não duráveis cresceu 1,1% em abril. Na comparação anual, recuou 0,2%.
SOB PRESSÃO DOS JUROS ALTOS
No mês de abril, a indústria obteve perdas em 16 dos 25 ramos do setor. De acordo com o IBGE, as principais influências negativas vieram de produtos alimentícios (-3,2%), sendo o quarto mês consecutivo de queda na produção e acumulando no período um recuo de 7,3%; máquinas e equipamentos (-9,9%), eliminando o avanço de 6,7% registrado no mês anterior; e veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,6%), um recuo após as variações nulas nos meses de março e de fevereiro.
No período, ainda, caíram as produções de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,4%), indústrias extrativas (-1,1%), bebidas (-3,6%), produtos de metal (-3,3%), outros equipamentos de transporte (-5,2%) e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,9%).
Ao analisar o cenário de abril, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou nesta sexta-feira (2) que o alto patamar das taxas de juros “vem interferindo nas decisões de investimento na economia”. “O grupo de bens de capital”, prosseguiu a entidade, “apresentou queda expressiva em abril, revertendo o crescimento observado em março. Essa categoria inclui máquinas e equipamentos, que, por sua vez, vem performando uma dinâmica desfavorável em relação a sua média histórica, que reflete, em parte, a dificuldade de colocar em andamento planos de expansão por parte das empresas no contexto econômico atual”.
Ontem (1/6), ao avaliar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2023, que registrou alta de 1,9%, em relação ao trimestre anterior, e uma queda do PIB Industrial de 0,1%, a Fiesp afirmou que “é resultado da alta taxa de juros e de condições financeiras restritivas”. Nos três primeiros meses deste ano, a indústria de transformação acumula um recuo de 0,6% no período.
“A produção industrial continua 1,3% defasada em relação ao nível pré-pandemia e segue apresentando fraco dinamismo. Este desempenho tem sido fortemente influenciado pelo elevado patamar da taxa de juros básica e pela permanência das condições financeiras restritivas, que afetam de maneira ainda mais intensa a indústria”, manifestou a Fiesp na nota.
Também ao analisar o resultado do PIB, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), apontou que o resultado esconde um mercado interno que “não se saiu nada bem”.
“O consumo das famílias seguiu perdendo força, de modo a ficar em uma situação de quase estagnação, e os investimentos não só ficaram no vermelho pela segunda vez consecutiva, como quase triplicaram a intensidade de sua perda. Em segundo lugar, do lado da oferta, a indústria em seu agregado registrou seu segundo sinal negativo consecutivo. Na indústria de transformação, já são três trimestres seguidos de perdas na série com ajuste sazonal, trajetória esta que passou a ser apresentada também pela construção. O setor de serviços ainda resiste, graças a transportes e serviços financeiros, mas já não cresce como antes”, diz trecho da nota da entidade.
“O bom desempenho neste início de ano deveu-se, então, a um dinamismo bastante concentrado na agropecuária. E muito disso, graças à safra da soja”, acrescentou o Iedi.